terça-feira, 13 de agosto de 2013

Ano Novo - Vítimas Novas

Dia 51

       "Com o tempo, eu serei perdoado." O homem caminhava nas sombras, camuflado na escuridão. Apanhou do bolso interno do sobretudo um cantil de uísque e bebeu com vontade e energia! A barra de seu sobretudo voava para trás enquanto ele caminhava, dando-lhe um majestoso ar cinematográfico. Guardou o cantil alcoólico de volta no bolso interno e afastou, com um movimento veloz do pescoço, uma pequena mecha de cabelos negros que lhe caía os olhos. Ajustou o chapéu na cabeça e parou no meio da rua. "Eu poderia ter vontade de urinar agora, é um grande momento para a humanidade, embora ninguém, além de mim, tenha consciência disso. Porém, não é mais que um medíocre rastejar imperceptível para o universo. E por isso, poderia calhar de eu ter vontade de urinar agora, quebrando a beleza macabra do meu ato neste primeiro dia do ano de 2011", pensou ele enquanto caminhava resoluto em frente, aproximando-se do silencioso centro da cidade.
       Ao lado de um posto da gasolina de esquina, um bar abrigava alguns homens embriagados. O homem de sobretudo e chapéu negros parou diante da porta do bar e todos, imediatamente o avistaram, cessando um pouco seus sorrisos por terem sido assaltados por uma curiosidade súbita. Com a cabeça baixa, ninguém podia ver seus olhos. Seu nariz e boca eram cobertos pela sombra gerada pelo chapéu sob a luz do letreiro do bar. O homem, estreando sua presença sob a atenção daqueles homens, levou a mão ao bolso calmamente, porém com tamanha confiança, que ativou no subconsciente de um dos espectadores a ideia de que ele tiraria do bolso interno de sua negra, longa e elegantemente vestimenta, uma arma. Porém, com um susto contido, esse pobre bêbado, pai de duas meninas e esposo de uma falecida esposa, presenciou o homem diante do bar, sacar do bolso interno um belo cantil de uísque e beber com gosto uma parte de seu conteúdo. Em seguida, tudo aconteceu muito rápido. O homem de sobretudo saltou sobre o bar, não com muito velocidade, mas era algo que ninguém pensava que aconteceria, e por isso, o reflexo de todos não respondeu de imediato. O atendente e dono do bar foi atingido no rosto por um soco ou um pontapé e em seguida, uma garrafa de cachaça pela metade atingiu o rosto de um velho magrelo que caiu do banco de estatelou-se no chão agonizante. Um homem deu a volta para alcançar o interior do balcão. Nosso vilão, no entanto, girou 360° com velocidade e sem perder muito o equilíbrio e ao completar o movimento, atingiu com ferocidade a orelha do homem que tendia impedi-lo de cometer mais agressões. O homem atingido teve a cabeça jogada contra a vidraça do armário de tabacos, o vidro partiu-se em mil pedaços e o rosto ensanguentado do homem com boa parte de seus reflexos comprometidos em virtude da quantidade de álcool ingerida, despencou ao chão. "Ah! Lavando a alma!", exclamou o homem de sobretudo em pensamento, e tendo o pensamento vazando por seu rosto em forma de sorriso. O que assustou muitamente os outros três camaradas do outro lado do balcão.
       - O que mais vocês vão querer? - perguntou o homem de sobretudo com um sorriso gigantesco no rosto, estava realmente feliz.
       O dono do bar e os quatro clientes solitários desta madrugada do primeiro dia de janeiro de 2011 jamais seriam vistos novamente na cidade de Teresópolis.



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quinta-feira, 1 de agosto de 2013

2010 - 2011

Dia 47

       - Este é o meu momento. Você terá o seu... em breve. - disse o homem trajado de seu sobretudo negro e vestindo na cabeça um chapéu da mesma cor, para o rapaz pálido que jazia no colchão no canto da sala da caverna gotejante. Resoluto ele virou-se, fazendo o sobretudo girar teatralmente como a capa de um vilão no prelúdio triunfante de seu derradeiro ato de maldade. O mocinho da história, porém, jazia em coma no colchão da cova do inimigo, que por sua vez, saía do túmulo de alguém para a noite fria do último dia do ano de 2010.







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