sexta-feira, 28 de junho de 2013

O Sol das 3

Dia 36

       O nome dela não constava na lista dos desaparecidos, o que deixava as coisas ainda mais confusas para o rapaz dos vídeos. Seus sentimentos alternavam entre ódio, saudade, medo e decepção. De vez em quando, alguns desses sentimentos se fundiam e por fim, quando viu uma gota de lágrima pingar e derramar-se vagarosamente sobre algum nome da lista, uma tristeza inconsolável ergueu-se de mãos dadas com um ódio incontrolável. Essas duas sensações pareciam trazer em seu encalço a imagem fugidia do homem do sobretudo negro e molhado que parecia viver deploravelmente em cada esquina deserta, escura e chuvosa de Teresópolis.
       O rapaz limpou uma lágrima derradeira que percorria seu rosto magrelo abaixo e com ela, foram-se todas as suas emoções. Seu rosto agora era vazio. Passou pelas pessoas e tudo parecia acontecer em outra dimensão. Não haviam pessoas, apenas vultos, e esses vultos abraçavam em consolo uns aos outros enquanto ele passava lentamente, como uma alma que já não pertencia a esse mundo. Saiu para o dia ensolarado, mas não sentiu o calor das 3 da tarde, nem o vapor dançante que subia do asfalto. Não viu o amigo que com a mão direita estendida vinha lhe cumprimentar, não sabia que cruzara o fim da calçada, não ouviu a buzina do ônibus, não sentiu nada.





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domingo, 23 de junho de 2013

Episódio 3

Madrugada

  Alexia desceu as escadas. Olhou rapidamente para o túmulo de seu pai, enquanto descia as escadas para o grande cômodo que ficava embaixo do cemitério. A menina estava completamente confusa e aflita. Não sabia exatamente porque estava ali embaixo. Estava assustadoramente escuro e as silhuetas das coisas esquisitas que sua mãe mantinha ali embaixo pareciam observá-la, fazendo-a sentir-se uma intrusa. Foi assaltada por um gélido arrepio que lhe fez tremer os ossos e correu para acender a luz. Ligava e desligava o interruptor e nada acontecia. Respirou fundo e observou o ambiente. Seus olhos agora já estavam acostumando com a escuridão e, assim, conseguia visualizar melhor as formas dos móveis estranhos que moravam ali. Se esforçou para se lembrar o que havia ido buscar ali, enquanto caminhava para o centro do lugar. Cercada pelos móveis e adornos esquisitos e exóticos lembrou o que a levara até ali. Uma repentina explosão sentimental que estava guardada dentro dela desde que começou a ter consciência de que existia. Uma necessidade que crescia dentro dela desde seus quatro ou cinco anos. Alexia queria extravasar sua alegria. Estava guardando energia desde sempre e nunca deixava essa força fluir. Sempre que pulava, correria ou dançava, era comedida. Seu pescoço doía pela tensão aplicada na musculatura para que a cabeça se mantivesse frequentemente em uma posição que não fizesse sua franja mudar de posição. Arrumava o vestido o tempo inteiro. Fazia um esforço vinte vezes maior que qualquer pessoa para fazer coisas comuns, como levar o lixo para fora, conversar, andar ou sorrir, pois depositava a cada uma dessas simples práticas cotidianas uma rigorosa atenção para que fossem concluídas da melhor maneira possível. Assim, não conseguia manter um diálogo normalmente, pois tinha que pensar muito antes de responder, para que a resposta fosse correta e agradasse à si mesma e ao seu interlocutor. Assim sendo, Alexia vinha acumulando uma angústia dentro de si desde criança e, agora, com seus dezessete anos, com as dúvidas e ansiedades naturais da adolescência, seu corpo compacto e delicado, se tornou sufocantemente pequeno para tanta força querendo escapar. Deixou a monstruosa força desconhecida que havia dentro dela esvair lentamente e se misturar com o obscuro desconhecido que parecia emanar daquele local de sombras e mistérios.
  Quando Ulisses finalmente chegou ao porão sob o cemitério, iluminando com sua luz dourada todo o ambiente, encontrou um par de olhos claros e brilhante. Só não pode perceber, de imediato, que aqueles olhos estavam fascinados pela luz que o espírito de Ulisses emanava naquele lugar de trevas. Alexia estava encolhida em um canto, entre a adega de madeira que Ulisses trouxera da França, quando lá esteve, e a estátua do gárgula. Ao menos parecia um gárgula. Ulisses nunca se deu ao trabalho de se preocupar com o que aquilo de fato era.
  - Está tudo bem, filha?
Alexia sorriu e, somente agora seu pai percebeu a garrafa de vinho ao lado da menina.
  - Posso? - perguntou Ulisses.
  Alexia balançou a cabeça afirmativamente e Ulisses pegou a garrafa. A garrafa não ficava firme, flutuava sob os dedos do fantasma.
  - Gostou desse, filha?
  Alexia apenas sacudiu a cabeça, dizendo que sim.
  - Que bom. Foi caro pra caramba, sabia? - Disse ele, rindo sonoramente.
  A menina também riu.
  - Eu nunca havia bebido nada alcoólico antes. - revelou a menina.
  - Sério? Nossa, presenciei uma primeira vez sua!
  Dito isso, Ulisses ergueu a garrafa.
  - Um brinde à isso! - e bebeu do gargalo, passando, em seguida, a garrafa para a menina.
  Alexia pegou a garrafa e tomou um longo gole.
  - Nossa. - começou Ulisses. - eu perdi tanta coisa.
  Houve uma pausa, na qual pai e filha compartilharam de um mesmo sentimento amargo, sensível e promissor.
  - Na verdade, não perdeu muita coisa.
  - Como não, Alexia?
  A menina tomou mais um longo gole da bebida, deixando apenas um quarto do vinho na garrafa e passou o recipiente alcoólico para o pai.
  - Em mim, você só veria silêncio. E em mamãe, somente estresse. Mas, curiosa e interessante deve ter sido sua vida... ou morte. Sei lá como chamar sua situação.
  - Hmm. Eu não sei se palavras como vida e morte podem definir qualquer estado da existência de alguém precisamente.
  - Algo me diz que eu estou longe de compreender o que você está prestes a começar a me comunicar. - disse isso sorrindo,   Alexia.
  Ulisses sorriu, satisfeitíssimo, e respondeu:
  - Você tem toda razão, Alexia.
  Cada um bebeu um gole generoso e terminaram aquela garrafa de vinho. Ulisses aconselhou Alexia a não abrir uma nova. Porém, visto que a menina insistiu, ele a fez beber meio litro de água antes. A menina obedeceu, e então, abriram uma outra garrafa e continuaram a conversa, que foi muito esclarecedora para Alexia. Ela nunca havia pensado na vida e na morte como uma coisa só. Como algo bom e harmonioso. Ulisses, pela primeira vez em sua existência consciente, teve um momento de proximidade com sua filha, e por isso, estava extremamente feliz. Afinal, no fundo, não conhecia ninguém direito. Havia conhecido Ana de repente, casou-se com ela rapidamente e morreu logo depois. De fato, era a primeira vez que conversava com Alexia de verdade. Até então, desde que se apresentou como seu pai na festa de sete anos da menina, apenas convivia com ela.




""Mas tenho de matá-lo", murmurou o velho. "Em toda a sua grandeza e glória. Embora seja injusto. Mas vou mostrar-lhe o que um homem pode fazer e o que é capaz de agüentar. Eu disse ao garoto que era um velho muito estranho. Agora chegou a hora de prová-lo.""
(Ernest Hemingway, em O Velho e o Mar) 

quinta-feira, 20 de junho de 2013

Saudade

Dia 32

       O rapaz, então, decidiu sair um pouco do tumulto e foi para fora respirar ar puro. Sua cabeça ainda rodava devido a bebedeira da noite anterior e aquela agitação toda só piorava, mais um minuto ali dentro e muito provavelmente desmaiaria. Não que fosse ruim desmaiar, sempre apreciara muito quando acontecia, porém, algumas vezes machucava, e neste caso, podia acabar quebrando sua câmera.  Ao pisar do lado de fora do centro de convenções, foi atingido pela luz e o calor do sol e correu para a sombra da árvore mais próxima. Parou na entrada de uma estreita trilha que serpenteava pelas árvores até desaparecer em uma curva longínqua. A trilha de terra era margeada por belas árvores cujas folhas reluziam verdes clarinhas na luz daquele sol de início de verão. Uma deliciosa brisa, apesar de tudo, percorria todo o caminho por entre as lindas árvores sentinelas. O rapaz dos vídeos sentiu vontade de deixar tudo para trás e perder-se naquele caminho que desembocaria em algum lugar que ele desconhecia. O Parque da Cidade era algo recente e, por isso, pouco explorado ainda. Ouviu de longe a multidão dentro do centro de convenções. Ficou ali, parado, olhando a balbúrdia que pulsava dentro daquela construção. Em sua solidão, olhou para cima e mais uma vez viu as folhas das árvores cintilando em seu verde delicioso e lembrou-se dos olhos dela. Sua mais bem vinda companhia, sua mais amarga esperança. Então, antes de retornar para aquele inferno e terminar o seu trabalho de gravar toda aquela bagunça, ele pegou no bolso de sua calça, o celular, e digitou o único número que sabia de cabeça. Esperava ansioso para ouvir a doce voz de sua amiga dizer um animado e prolongado "alô" do outro lado da linha. Porém, o que ele ouviu foi uma voz firme e indiferente dizer que o número com o qual ele tentava entrar em contato estava desligado ou fora da área de cobertura e solicitou, então, que ele tornasse a tentar ligar mais tarde. Ao longo do dia ele tentou ligar várias e várias vezes e no final do dia, por volta das sete da noite, quando o sol começou a se por, por detrás das montanhas, seu coração começou a sentir-se oprimido. Imaginou, com uma tristeza oca, que sua amiga desaparecera junto com as outras 46 pessoas. Ainda não tinha certeza, mas no dia seguinte a lista dos desaparecidos estaria completa e ele veria lá o lindo nome de sua querida amiga perdido em meio aos demais nomes, e a sensação seria a mesma de ver o corpo sem vida de uma inocente criança jazendo tristemente em um campo de concentração. Em seguida, seu coração enegreceria e o homem do Vale do Paraíso conheceria a maldade desamparada de quem não sabe ser mal.



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domingo, 16 de junho de 2013

Episódio 2


Urgência

       Ansioso, Ulisses atravessou a porta do escritório solitário do terceiro andar, onde caminhava em um eterno círculo de nostalgia há horas. Desceu as escadas sem tocar os degraus, flutuou até a varanda do segundo andar e deixou-se cair vagarosamente, atravessando o piso madeirado, surgindo do teto da cozinha. Parou lentamente na cadeira vazia da cozinha. Ana e Alexia tomavam um animado café da manhã.
       - Não critiquem minha entrada triunfal, família.
       Bem humoradas, as duas riram.
       - Cresce. - disse Alexia.
       - Eu queria virar gente. Literalmente. Mas você não me facilita, queridinha.
       Após o silêncio irritante que se seguiu, Ulisses disse:
       - Enfim. Eu soube que você está escrevendo um novo livro, Alexia.
       A menina ficou indignada e quase engasgou com o suco que bebia.
       - Você andou me bisbilhotando em meu quarto? - gritou.
       - Eu não. - respondeu o fantasma, calmamente. Ana se limitava a esvaziar lentamente, através do canudinho vermelho, sua caixinha de suco. Olhava de um para o outro, com as sobrancelhas ligeiramente erguidas.
       - Então como você sabe disso?
       Alexia levantou-se para sair, mas enquanto colocava a cadeira no lugar, aguardava, com olhos furiosos, a resposta do pai.
       - Snypes me contou.
       Alexia retomou o controle de seu humor e ao invés de gritar furiosamente e lançar a cadeira, que ainda segurava, pela janela da cozinha, conforme gostaria, permaneceu apenas perplexa.
       - Aquele fantasma nojento.
       Virou-se e sumiu da cozinha com raiva.
       - É um babaca mesmo, aquele Snypes. - afirmou Ulisses para Ana, que sacudiu os ombros mostrando neutralidade. Mas, na verdade, não gostou nem um pouco da ideia daquele velho fantasma encardido entrando no quarto de sua filha à noite e espiando o que a menina fazia.
       - Tenho que ir, querido. Está um caos no trabalho. Surgiram boatos de que formas de vida alienígena brotaram da louça suja de uma casa do bairro. - disse Ana, levantando-se apressadamente e jogando a bolsa no ombro.
       - Não ouvi nada a respeito. - respondeu o marido, divertindo-se com a novidade.
       - Ah, vai ouvir o barulho que isso vai gerar. Logo, logo.
       - E qual a sua opinião à respeito disso, Ana?
       - Eu não acredito. Acho que são boatos bobos.
       Com pressa, despediu-se e saiu da cozinha.

       No final da tarde, enquanto o mundo afundava em um sonho lilás róseo e apaixonante, Alexia olhava através da vidraça da janela e observava um homem de terno preto visitar a casa do outro lado da rua. A menina se deu conta, com certa tristeza, de que não conhecia nenhum de seus vizinhos. Se imaginou com um binóculo em mãos vigiando a rotina da vizinhança para, no momento oportuno, como quem não quer nada, aproveitar, ou até mesmo criar, uma situação em que pudesse introduzir-se e cumprimentar algum deles. Enquanto isso, o homem do terno preto interrogava a sua vizinha da frente. Infelizmente, Alexia não conseguia ver a vizinha da frente, pois a varanda do andar de cima cobria a pessoa da cintura para cima. Alexia se lembrou, de repente, que haviam se passado sete anos desde que seu pai lhe presenteara, em seu aniversário de sete anos, com uma lâmpada mágica. Agora, em seus catorze anos de idade física e seus séculos de idade mental, compreendia que seu pai lhe havia feito uma desesperada, porém sutil e delicada, solicitação de resgate. Naquela manhã, durante o café da manhã, ele havia claramente dito que gostaria de voltar à vida carnal. Estava tudo nas mãos de Alexia. Agora, seria ela a lhe dar a vida. Quantas pessoas no mundo tinham a oportunidade de dar à luz seu pai? Ela não conhecia ninguém com esse privilégio. Sorriu diante essa possibilidade inusitada, enquanto o homem de terno preto, na calçada do vizinho, acendia um cigarro cuja fumaça espiralava lindamente para os céus.

       Ulisses tinha tanto o que pensar, que preferiu não pensar em nada. E o nada, lhe parecendo vazio, lhe preencheu de alívio e urgência. O que lhe trouxe dúvida e inquietação. Queria ir procurar Conde Snypes e irritá-lo a ponto de este perder a razão e permitir à Ulisses a deliciosa perda da noção. Gostaria, também, de ir até o quarto de sua filha e conversar com ela sobre tudo e sobre nada. Queria fumar um cigarro ou beber uma bebida forte, mas, ao mesmo tempo, gostaria de saber que não beberia e nem fumaria nada. Subiu, então, flutuando livremente até o telhado. De lá viu sua filha correndo, à meia noite, sob uma chuva espessa e bem intencionada, pelo cemitério particular da residência. Ela parecia tão cheia de vazio quanto ele.





"Gostei de saber que estás buscando uma vida confortável em Karlsbad e conseguindo escrever, pois acredito que esta, para ti, é a melhor combinação. E deve ser muito bom escrever alguma coisa."
(Anna Freud em correspondência a seu pai Sigmund Freud, no livro Correspondência, organizado por Ingeborg Meyer-Palmedo) 

quinta-feira, 13 de junho de 2013

Um Grande Passo Foi Dado

Dia 32

       Fazia uma manhã linda de céu azul e um calor ameno quando um alvoroço desesperado tomou conta de cidade de Teresópolis. Na noite anterior um enorme número de pessoas desapareceram de suas casas e das ruas. Todos se reuniram no centro de convenções do Parque da Cidade e várias hipóteses foram levantadas. Alguns diziam que foi obra de alienígenas, outros diziam que esse grupo de pessoas (cerca de 40) faziam parte de alguma ceita e cometeram algo parecido com suicídio coletivo ou qualquer coisa desse tipo. Um rapaz que editava matérias na TV e que enchera a cara de cachaça na noite anterior estava lá com sua câmera de mão posicionada para capturar as imagens da grande reunião. O prefeito dizia algumas palavras amenas, procurando acalmar todo mundo, mas, como de costume, as pessoas não estavam dispostas a se acalmarem. Agiam como se a culpa fosse do prefeito da cidade, mesmo sem perceberem. Entretanto, o rapaz apagado na lateral direita, dentre muitos outros cinegrafistas, tinha "os números", "e isso devia significar alguma coisa", pensou ele.



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sábado, 8 de junho de 2013

Episódio 1

Lacuna

O tempo parecia não passar, quando, finalmente, Alexia viu aquela calda invisível atravessar o gramado bem cuidado, acariciando a grama com suas mãos fantasmagóricas. Com o olhar, a menina seguiu o movimento da grama alta até se deparar com as gélidas cercas negras que protegiam-na do cemitério no canto do quintal. Sentada nos degraus da escada, olhava tristonha a hipnotizante dança da água no pequeno lago no outro do quintal, enquanto o vento brincava com suas longas mechas loiras. Não conseguia se concentrar em nenhum pensamento específico. Viajava pelas ramificações de cada ideia que lhe vinha à mente. Quando pensava nas águas do lago à sua frente, lembrava-se da vara de pescar, que poderia pegar na garagem e se distrair. Mas quando lembrava da vara de pescar na garagem, não podia evitar de se deparar com a imagem da moto de seu pai que repousava como uma rainha luxuriosa em sua morava automobilística. E assim, ao pensar na moto de seu pai, obviamente, lembrava-se de seu pai.

- Quer parar com isso? Só porque você pode atravessar as malditas portas, não quer dizer que você precise fazer isso o tempo todo! - disse Ana, repreendendo Ulisses pela quinta vez naquele dia, pelo mesmo motivo.
- Quando sua filha resolver me por em meu corpo novamente, eu prometo voltar a usar maçanetas.
- Eu já falei com ela.
  - E ela?
Ana suspirou.
- Acho melhor você ir falar com ela.

Ulisses estava indo falar alguma coisa com sua filha quando encontrou um mosquito na cozinha. Lembrou-se de que os mosquitos tinham cerca de um mês de vida e percebeu que nunca, em seus catorze anos de vida morto, havia visto um fantasma de mosquito. Isso lhe intrigou profundamente. Decidiu, portanto, passar o resto do seu tempo livre vigiando aquele mosquito até o momento da morte do inseto.

Alexia passou suas férias escolares investindo em sua habilidade de pintura. Deixou sua mente livre, leve e solta. Viajou pelas ramificações obscuras de seus pensamentos incertos e deixou o resultado deslizar pelos seus dedos, através do pincel até as telas em branco por todo o mês de julho. Sua concentração estava afiada e, consequentemente, sua alienação à família estava fisgando Ana e sufocando o fantasma dourado de seu pai, quando este, não estava correndo atrás do mosquito.

- Querida Alexia. - Iniciou Ulisses durando o café da manhã. - Gostastes de meu presente de aniversário de sete anos atrás?
A adolescente balançou a cabeça afirmativamente ao mastigar seu cereal matinal.
Sem conseguir se conter, Ulisses perguntou:
- E você utilizou?
  - O que?
Perguntou a menina, para ganhar tempo.
- O acelerador de partículas! - respondeu Ulisses, ironicamente.
Ana riu.
Visto que Alexia apenas continuou a comer seu cereal sem nada responder à piada do pai, Ulisses insistiu.
- Você esfregou a lâmpada mágica, garota?
Alexia engasgou levemente por causa da pergunta direta. Ana arregalou os olhos para Ulisses rindo, surpresa.
  - Eu esfreguei ela na sua frente. Não lembra, pai?
  Ulisses fingiu que fazia esforço para se recordar do momento em que a pequena Alexia, então com sete anos de idade, passava a borda do vestido vermelho na lâmpada mágica e libertava a genia de sua prisão desconfortável.
- Vagamente. - respondeu.
Alexia olhou para seu pai e sorriu. E então, todos riram na mesa, felizes.




"Numa cidadezinha remota, nasce uma donzela que se manterá imaculada dos erros comuns de sua geração: uma miniatura, no meio dos homens, da mulher cósmica que desposou o vento."
(Joseph Campbell, em O herói de Mil Faces) 

quinta-feira, 6 de junho de 2013

O Jogo Começa

Dia 31


       "Eu não sei o que fazer com os dias que me foram concedidos. Eu não acho que eu saiba como lidar com essa responsabilidade. Cada momento da minha vida tem sido uma grande história que eu gostaria de saber contar, e isso me deixa aflito e ansioso, porque eu gostaria muito de dizer coisas e fazer coisas, mas não as digo e não as faço." Estas eram as coisas que ele dizia para sua imagem refletida no espelho do banheiro, era a imagem de um rapaz cansado, descabelado e com a barba por fazer, e essa imagem respondeu-lhe que "não se esqueça que todos os seres humanos estão neste mesmo barco furado. Todos nascem destinados a morte, seja ela natural ou acidental. Não se esqueça de que nenhuma pessoa é maior do que você, e nem menor. Estamos todos submetidos aos efeitos do aquecimento global. Não se sinta intimidado por nenhuma outra pessoa, pois ela é tão frágil perante uma explosão nuclear quanto você."
       O rapaz pegou, um tanto trêmulo, seu copo vazio e tornou a enchê-lo de cachaça. Gostaria muito de, neste momento, esquecer que existia, pois sua existência agora lhe pesava demais.
       Houve, então, uma forte pancada na porta da sala e o rapaz quase deixou cair o copo. A primeira coisa que lhe veio a mente foi o homem de sobretudo preto encharcado, apesar de que nessa noite o céu estava limpo. Quando o rapaz, inconsequentemente, devido às três doses de cachaça, abriu a porta, não havia homem de sobretudo algum, apenas o vento gelado e violento que adentrou a sala e trouxe consigo um bilhete com a seguinte informação:


"138.047 - 138.000 - você está pronto?"




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domingo, 2 de junho de 2013

Trilha Sonora da Primeira Temporada

       Segue a lista das músicas que compõe a trilha sonora da primeira temporada de A Cidade dos Esquecidos:



A Pequena Dama
♪ Paint it Black (The Rolling Stones)
 Vincent (Don McLean) 





Os Diamantes não são Eternos
♪ You Shook Me All Night Longe (Studio Sunset)
Born To Be Wild (Steppenwolf) 













Um Golpe Sangrento em Hong Kong
♪ Carry On (Fun.)
 I Remember You (Skid Row) 










Propósitos
♪ Zyyhky (The Ratzz)
Superfantástico (A Turma do Balão Mágico) 



Expansão Mental
♪ Everyday People (Carole King and Reba McEntire)
 Ordinary People (Bon Jovi) 



















A Proposta do Conde
♪ Luka (Suzanne Vega)
My Way Home is Through You (My Chemical Romance) 






O Fantasma Dourado
♪ Ruby (Kaiser Chiefs)
Shake Shake Shake (The Sounds) 





       Música é o que há! Faz parte, inclusive, do processo criativo do escritorzinho que assina a autoria de A Cidade dos Esquecidos.