domingo, 31 de março de 2013

Episódio 03


Um Golpe Sangrento em Hong Kong


       A filha estava na escola e só havia Ana e o mordomo, cujo nome ela nunca se dera o trabalho de tentar não esquecer. Vagando pela imensa casa, entendiada e quase caindo naqueles pensamentos malditos sobre ressuscitar seu marido morto, resolveu ocupar a cabeça e praticar um pouco de sua habilidade em escrita. Subiu até o terceiro andar da casa e entrou naquele ambiente carregado de sentimentos intensos. Passou pela estante que guardava as "horcrux" de Ulisses e sentiu o ar gelado que subia da mancha negra no chão e pairava envolta do aparelho de som. Com o costumeiro impacto sentimental, localizou o notebook vermelho dobrado sobre a escrivaninha. Ignorou tudo isso da maneira que conseguia e, corajosamente tocou o computador. Desdobrou o aparelho e ligou para começar a escrever.
       Pensou em escrever algo que sua filha pudesse usufruir quando já não tivesse a companhia da mãe. Poderia registrar ali quem ela realmente era, e a filha, quando crescesse e lesse, iria realmente conhecer a sua mãe. Conseguia imaginar Alexia sorrindo ao saber como a mãe gostava de viajar e aprender coisas novas, conheceria o lado leve, divertido e despreocupado de sua mãe. Será que Alexia traçaria esse paralelo entre o que a mãe tinha que ser e o que a mãe era de fato, e encontraria a explicação de porque sua mãe não se comportava como realmente gostaria?
       Ana gostaria de saber porque ela aceitou tudo isso, porque largou o violão e começou uma carreira jornalística? Porque educou Alexia de forma tão coerente e disciplinada? Porque não se deixava ser ela mesma, se vestir como ela mesma e ensinar isso à filha? Afastou todas essas dúvidas de sua mente e começou a escrever algumas linhas. Intitulou o livro como Um Golpe Sangrento em Hong Kong, dando sequencia ao best-seller de seu marido chamado Um Drink Sangrento em Paris, escrito logo que ele voltou de sua maravilhosa viajem à Paris, antes de conhecer Ana. Essa decisão de escrever a continuação do livro fez Ana ficar um pouco chateada consigo mesmo, afinal, estava novamente se veiculando ao seu marido morto de uma forma covarde. Negando suas próprias perspectivas. Mas por outro lado, não via nada demais em escrever um romance de mesmo molde que o iniciado por Ulisses, para expressar suas ótimas experiências na China. Inclusive, ela não via a hora de voltar lá para desenvolver ainda mais suas habilidades nas artes marciais, era extremamente divertido bater naquele boneco de madeira e quebrar tábuas. Estava, também, ansiosíssima para entrar em uma competição e vencer alguém em uma luta. Acrescentou, então, todos os seus desejos na narrativa, onde ela seria uma mestre das artes marciais envolvida em uma trama complicada e violenta na qual seria a heroína que usaria seus punhos e sua inteligência afiada para salvar Hong Kong de um complô sobrenatural, ou algo assim. Começou a digitar e sentiu uma boa sensação de liberdade. Era difícil, entretanto, porque sua mente lhe fazia retornar às responsabilidades da sua vida corrida e pesada. Somente com grande força de vontade ela deixava pra lá as questões de seu presente e buscava informações daquela viajem agradável para embelezar cada detalhe de cada pequena recordação na tela à sua frente.
       Às três da tarde viu o ônibus escolar parar em frente à sua casa e ouviu Alexia se despedindo de seus amiguinhos. Apesar de séria e fria por padrão, a menina era muito agradável quando lidava com as pessoas. Ana enviou por e-mail alguns capítulos para seu editor e desceu para ficar um pouco com sua filha.
       O mordomo raramente fazia comida e a menina era obrigada a comer sobra de bolo da geladeira e isso a deixava muito irritada com o mordomo, cujo nome ela nem queria mais saber. Provavelmente aquele preguiçoso estava dormindo no porão, embaixo do cemitério, onde ficava uma espécia de quartinho que Ana montou para ele, do lado direito da escada. Alexia achava ele um péssimo mordomo, pois nunca via ele arrumar nada.
       Sua mãe se sentou à mesa com uma caixinha daquele misterioso suco vermelho de costume e Alexia, pela primeira vez se deu conta de que nunca havia visto sua mãe consumir qualquer outra coisa, a não ser aquela bebida com cor de sangue. Por outro lado, Alexia também não se lembrava qual foi a última vez em que comeu outra coisa que não fosse resto de bolo de aniversário ou torta de limão. Durante a conversa, Ana contou à filha sobre o livro que estava escrevendo, o que fez Alexia confessar que também estava escrevendo um livro. Ana ficou surpresa e muito satisfeita com a notícia e, é claro, absolutamente curiosa sobre o conteúdo. Mas, quando a filha anunciou o título da obra, Ana ficou um pouco apreensiva.
       - Meu Fantasma Favorito! - exclamou Alexia. - oque acha, mãe?
       - É um bom nome. Mas qual o significado?
       Com naturalidade, olhando para o pedaço de bolo velho que levava no garfo até sua boca, a menina respondeu.
       - Quer mesmo saber?
       - Claro que quero. - respondeu Ana sorrindo.
       Alexia arregalou um pouco os olhos cor de mel e disse à mãe que andava ouvindo barulhos estranhos e luzes se movendo pela casa durante a noite. Achava que se tratava de fantasmas.
       - Mas pode ser qualquer outra coisa, Alexia. As luzes podem ser os faróis dos carros que passam de madrugada, e existem milhões de possibilidades para esses barulhos.
       - Eu vi o fantasma. - anunciou Alexia de forma súbita e triunfante.
       Ana riu, mas sabia que a filha não estava brincando.
       - E como ele era? - perguntou, dando-se por vencida.
       - Ele era brilhante, transparente e meio amarelado. - a menina parou e olhou para cima com o dedo indicador no queixo, muito pensativa e, apressadamente, após somar todas as características que havia descrito, divulgou o resultado rapidamente, com medo de perder a oportunidade de parecer muito esperta e pouco objetiva e prosseguiu - Era dourado! - fez uma pausa para comer o bolo e continuou - Eu abri a porta do meu quarto sem fazer barulho para ele não me ver. Eu só vi ele de costas e então ele desapareceu em uma nuvem de fumaça mística e colorida.
       - Você tem certeza que você não sonhou isso?
       - Não. Não tenho certeza. Afinal de contas, às vezes tenho sonhos muito vívidos.
       As duas terminaram suas respectivas refeições e Ana deixou Alexia na mesa fazendo sua tarefa de casa, enquanto encaminhava-se para o escritório no intuito de escrever um pouco mais. Antes de sentar-se à frente do computador, deu meia volta e ligou o maldito aparelho de som. Uma deliciosa música japonesa soava do gramofone do aparelho. A moça riu da coincidência e foi sentar na cadeira da escrivaninha para continuar escrevendo Um Golpe Sangrento em Hong Kong.






"- Acho que acabei o que tinha que fazer aqui em cima - disse ela, sentindo-se subitamente hesitante. - Estou indo. Tchau. Ela esperou. Pelo quê, não sabia. Não houve nada. Havia uma sensação de algo. Ergueu a mão como se fosse dar adeus, então a deixou cair de volta, envergonhada. Abriu um pequeno sorriso e uma lágrima escorreu pelo seu rosto, sem que ela percebesse. - Eu te amo, querido. Tudo na mesma. Lisey desceu as escadas. Por um instante, sua sombra continuou lá em cima, e então também foi embora. A sala suspirou. E então caiu em silêncio."
(trecho do livro Love - A História de Lisey, de Stephen King)



sexta-feira, 29 de março de 2013

Próximo Domingo



No Próximo Domingo:

       "- Você tem certeza que você não sonhou isso?
       - Não. Não tenho certeza. Afinal de contas, às vezes tenho sonhos muito vívidos."


(trecho do próximo capítulo de A Cidade dos Esquecidos)





quinta-feira, 28 de março de 2013

Desaparecimentos em Teresópolis

Dia 01

       Teresópolis era uma cidade com cerca de 138.081 habitantes, localizada na região serrana do Rio de Janeiro. Desde que o frio se fora e o calor chegou à cidade, mais e mais pessoas desapareceram sem deixar pistas.
       Alguém no principal canal de TV da cidade relacionou o tempo quente, recém chegado, como causador dos desaparecimentos. Muito embora ninguém mais na cidade visse relação entre esses dois fenômenos, o rapaz tinha bons motivos para crer na sua teoria.

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sábado, 23 de março de 2013

Episódio 2

Os Diamantes não são Eternos


       O vento lá fora assobiava e jogava algumas folhas secas contra a vidraça da janela do antigo escritório de Ulisses. Olhando para o notebook de cor vermelho-vinho sobre a escrivaninha, Ana pensou em mandar Alexia entrar, pois o vento lá fora parecia estar bem frio. No entanto, não havia nada para se fazer no quintal, a não ser prestar luto àqueles tantos mortos do cemitério que Ana montou na parte de trás da casa, perto da garagem. Ana sabia que sua filha não tinha o menor interesse em ficar olhando aquele pequeno cenário feio e melancólico e logo, logo a menina entraria para estudar alguma coisa. Ana tinha muito orgulho de sua filha, pois era uma menina séria e educada. Fazia sempre seus deveres de casa, lia muitos livros e aprendia tudo muito rápido. Se não se enganava, achava até que a menina estava escrevendo um livro naquele mesmo computador vermelho onde seu falecido marido escrevia seus sucessos dia e noite. O orgulho pela filha e a admiração pelo marido lhe trouxeram aos lábios um ligeiro sorriso que ela só percebeu quando este se apagou, no momento em que seus olhos encontraram aquela mancha negra no chão, ao redor da base do aparelho de som que causara a morte de seu marido. A visão da mancha mortal lhe levou embora o sorriso e, em troca, trouxe à sua mente, uma avalanche de lembranças que rolavam para lá e para cá deixando-a meio tonta.
       Tudo havia acontecido rápido demais, e agora, essa lacuna que ela deveria preencher com essa busca inalcançável de trazer Ulisses de volta lhe deixava aflita. Por isso ela abriu mão de cultivar frutas, legumes, plantas, etc no fundo do quintal e transformou seu pequeno jardim em um cemitério, onde colocou as lápides que encontrou na casa assim que se mudaram para lá. Fez uma lápide para Ulisses e outra para essa tal de Cibele, cujas cinzas seu ex-marido deixava na escrivaninha, ao lado do computador. Ana nunca o ouvira dizer uma palavra sobre Cibele, mas ela devia ter grande importância para Ulisses, afinal, quando morreu, ele estava escrevendo um romance chamado Cinzas e Ana imaginou ali uma conexão. Apesar da óbvia curiosidade, não estava com disposição de ler os capítulos que já estavam prontos.
       O casamento deles durou alguns poucos dias e Ulisses passava a maior parte do tempo escrevendo. Então, ela começou a conhecê-lo melhor depois que passou a ler seus livros, após a sua morte. Quando estava lendo A Casa dos Esquecidos, ouviu Alexia chamar.
       - Oi, filha! - respondeu.
       - Onde você tá, mãe?
       - Estou no escritório de seu pai! - teve que gritar novamente, pois a porta estava fechada e o escritório ficava no terceiro andar da casa.
       Alexia subiu as escadas devagar, apesar de estar ansiosa. Ela tinha esse rigoroso autocontrole, essa mania de manter seu comportamento sempre adequado, ignorando se seus sentimentos pedissem urgência em algum caso. Ana não pôde evitar um sorriso resultante de orgulho com uma pequena dose de pena. Às vezes gostaria que Alexia fosse uma menina normal e que se deixasse levar pelas necessidades de chorar, gritar, andar desajeitada e falar livremente aquilo que lhe viesse à cabeça, sem ficar filtrando cada sílaba antes de se pronunciar em qualquer assunto que seja.
       A menina bateu à porta e a mãe lhe mandou entrar.
       - Mãe, a senhora sabe onde estão os pincéis e a aquarela? Eu quero pintar.
       - Eu não sei, filha. Eu não mexo no cavalete. Tem certeza de que não está no próprio cavalete?
       Alexia fez cara de pensativa, com a mão no queixo e tudo, e Ana achou aquela expressão muito engraçada.
       - Ah, deixa! Eu vou perguntar ao mordomo. A função dele é colocar as coisas no lugar certo. Se ele não souber onde está, é porque não está no lugar certo, e se não está no lugar certo...
       - Alexia. - Ana interrompeu a menina com um tom sério, mas ainda assim, sem ser rude. - O mordomo tem nome.
       A menina fez novamente aquela cara de intrigada e perguntou:
       - E qual é o nome dele?
       Ana pensou um pouco, mas não conseguiu se lembrar.
       - Godofredo, ou algo assim. Pergunte para ele, Alexia. - disse com um aceno de mão, como que para encerrar o assunto.
       A menina concordou, virou-se, fechou a porta delicadamente quando saiu e desceu as escadas até o primeiro andar.
       Ana retomou a leitura de A Casa dos Esquecidos. Era incrível a proximidade que ela sentia com seu marido quando lia suas histórias, era realmente como se ele não houvesse partido para sempre. Ela podia ler a sua voz em cada linha. Conseguia imaginar seu sorriso ao narrar certas frases, conseguia visualizá-lo levantando e dando uma volta pela casa para pescar no ar de um cômodo qualquer a próxima frase. Como ela o sentia cada vez que lia um livro seu! Mas essas leituras, a visão daquele computador, o cheiro e a luz daquele escritório, a mancha macabra no chão e o cemitério lá fora, só faziam crescer dentro dela aquela impossível responsabilidade de trazer seu marido de volta, para que pudessem viver aquilo que não tiveram tempo de viver. Essa responsabilidade lhe sufocava, e quando a sensação dessa obrigação absurda ia embora, um sentimento longínquo, fraco, mas poderoso, começava a tomar forma no fundo de sua mente, alma ou coração. Algo traiçoeiro lhe dizia que, de fato, ela não sentia tanta falta assim de Ulisses. Afinal, eles se esbarraram subitamente na calçada de um bar que havia acabado de fechar. Sentaram-se na calçada e ficaram conversando até de madrugada. Foi tão agradável, diferente, divertido... mágico, devido à impulsividade que os direcionava e à emoção de acontecer algo novo. Fora a adrenalina gostosa de fazer algo incomum, quase errada, de se ficar conversando com um estranho na calçada de um bar fechado em uma madrugada qualquer. Namoraram durante alguns meses e então se casaram. Quando ela se deixava levar por essa ideia traiçoeira de que ela não sentia tanta falta de seu marido falecido, a voz ia adiante e a lembrava de como ele passava a maior parte do tempo naquele escritório, ouvindo aquelas músicas francesas, digitando naquele computador vermelho e olhando aquele jarro com as cinzas da tal Cibele. Se Ana sentia falta de alguma coisa, seria da vida que ela estava esperando ter com ele, e não da vida que eles tiveram, pois não tiveram tempo de viver qualquer coisa para sentir falta. Se Ulisses voltasse, ele voltaria para ela ou para a própria vida? Finalmente, a voz traiçoeira dentro dela fez a pergunta crucial.
       Mas, essa mesma voz, depois que a convencia dessa dura verdade, lhe sussurrava uma ideia de incentivo. Se houvesse uma forma de trazer Ulisses de volta, ele poderia conhecer Alexia, e Ana gostaria muito que eles se conhecessem. As obras literárias dele evidenciavam o quanto Alexia parecia com ele.
       Ana viu que a noite já estava caindo e lembrou que tinha uma apresentação agendada. Ia tocar piano para as crianças na escola. Guardou o livro na estante do escritório, junto com todos os outros do célebre autor Ulisses Alves II e foi se arrumar.
       Não quis colocar nada formal. Antes de toda essa história de ser casada, viúva, mãe, jornalista e etc, ela era Ana Diamante! A cantora mal sucedida, encantadora, livre e feliz. Sentiu o vento noturno percorrer suas coxas, seus braços e seu rosto, quando saiu para a varanda que dava para o jardim da frente da casa. Sentiu falta de seu cabelo comprido e sua franjinha cortada reta acima das sobrancelhas, e também de seu enfeite de cristais que usava no cabelo. Mas o vento brincou com seus cabelos curtos enquanto ela caminhava satisfeita evitando pisar nos esquilos que se aglomeravam no seu gramado. A porta da garagem abria lentamente, como que de propósito, para causar aquele efeito dramático de cinema, para revelar, bem aos pouquinhos, a linda moto de seu marido. Era uma daquelas motocicletas que é preciso andar com os braços lá em cima, "coisa de motoqueiro sexy" pensou Ana, e achou que seria mais um motivo para trazer seu escritor de volta, daria tudo para andar na garupa daquela moto com ele. Ir à algum lugar, quem sabe àquele mesmo bar onde se conheceram, "quando ele estiver aberto, dessa vez", pensou, sorrindo com inocência e esperança, "e beber uns drinques conversando, até nos expulsarem".
       Alexia, da janela de seu quarto, viu a mãe sair como um foguete de dentro da garagem, cantando pneu e deixando um rastro de fumaça e marcas negras do pneu na rua atrás de si. A menina achou a mãe o máximo dominando aquela máquina selvagem que rugia poderosíssima. A menina riu, levando as mãos aos ouvidos, por causa do barulho do veículo. Depois que a mãe estava fora do alcance de sua visão, a menina olhou para a garagem, afim de certificar-se de que a porta havia sido fechada. Depois disso, foi dormir.






"Não sei o que a senhorita pensa, mas, quanto a mim, estou cansado de ser eu mesmo. A senhorita não se cansa? Gostaria de ser uma outra pessoa, pelo menos por hoje?"  
(Charles Lutwidge Dodgson - trecho retirado do livro Eu Sou Alice, de Melanie Benjamin)


Sexta Feira de Muita Decepção em Teresópolis


        Um acontecimento inesperado não ocorreu enquanto estava sendo esperado na altura da região que engloba Bairro dos Artístas e Morro dos Pinheiro


       Ontem, sexta feira (22 de março) não aconteceu nada surpreendente na cidade serrada do Rio de Janeiro. Imagens de um cinegrafista amador registram o momento exato em que nada aconteceu na região onde deve ficar o Morro dos Pinheiros.




 No vídeo amador podem serem vistas as regiões do Morro dos Pinheiros e, mais além, o que deve ser o Bairro dos Artístas. Ao observar atentamente, percebe-se que nada aconteceu de extraordinário. Nenhum meteoro caiu devastando bairro algum, nenhum prédio tremeu ao ritmo de algum curioso abalo císmico, nenhuma avalanche cobriu a paisagem e ninguém foi visto sendo abduzido por extraterrestres.


     Infelizmente, esta sexta feira monótona e comum, ratificou os argumentos dos, principalmente jovens, habitantes da cidade de que "nada acontece nessa cidade". Relato de um jovem anônimo sentado na escada da Praça Olímpica, fumando um cigarro sozinho confirma o pensamento da maior parte dos jovens da cidade de Teresópolis. Entre uma tragada e outra ele disse: "nada acontece nessa merda de cidade".

       Em contrapartida, um professor de história do Colégio Estadual Higino da Silveira, Paulo Lucic, comenta, com muita perspicácia: "E é justamente quando ninguém vê, que tudo acontece". Apesar de não ter caído nenhum meteoro e não ter surgido nada significamente emocionante no céu, com certeza, coisas agradáveis, bonitas e misteriosas ocorreram em todos os cantos da cidade. Com toda a certeza, alguém bebeu cerveja no final do dia com amigos. E quando ninguém estava olhando, um mosquito anônimo faleceu de causas naturais, ele já estava bem velho.

sexta-feira, 22 de março de 2013

Pessoas Penduradas em Teresópolis

 

Trabalhadores Executam suas Atividades em Plena Sexta Feira      

 

 

        Em Teresópolis, cidade serrana, tranquila, charmosa e refrescante (em seus melhores dias) seres humanos são avistados dependurados em equipamentos, aparentemente pintando uma gigantesca caixa de concreto de guardar gente.
       É comum teresopolitanos reclamarem que nada acontece na cidade e é ainda mais recorrente reclamarem de tudo oque acontece na cidade. Também não é raro reclamarem do que não acontece. Entretanto, o acontecimento desta manhã de sexta feira (22 de março) prova que acontecem coisas importantes na cidade com uma frequência incessante (literalmente).
       Os humanos, pendurados por cabos e geringonças próprias para a execução da atividade que estavam praticando, ainda não foram identificados.

       O vídeo à seguir mostra o flagrante da atividade corriqueira, aparentemente emocionante, apesar de desgastante e levemente remunerada dos dois indivíduos.



 
 
 A construção residencial, com formas quadriculadas, que está recebendo a atenção dos dois homens, trata-se de uma espécie de coméia repleta de humanos dentro. Mantendo a analogia, assim como as abelhas, essas criaturas podem ser perigosas física e moralmente, não só às abelhas, mas também aos seus semelhantes. É claro, é importante destacar que as abelhas são muito menos perigosas e incômodas em relação aos humanos, além de serem criaturas incríveis!

 
"De acordo com as leis da aviação uma abelha nunca poderia voar, suas asas são pequenas demais para levantar seu corpo gordinho. As abelhas no entanto voam assim mesmo, porque elas não dão a mínima para que os humanos pensam ser impossível."
(frase do filme Bee Movie)

quinta-feira, 21 de março de 2013

Próximo Capítulo de A Cidade dos Esquecidos


No Próximo Domingo:

       "O orgulho pela filha e a admiração pelo marido lhe trouxeram aos lábios um ligeiro sorriso que ela só percebeu quando este se apagou, no momento em que seus olhos encontraram aquela mancha negra no chão, ao redor da base do aparelho de som que causara a morte de seu marido."


(trecho do próximo capítulo de A Cidade dos Esquecidos)





Pombos Rejeitam Refeição

Rejeição, Ignorância, Desfeita ou Nada de Mais?


      Um pombo foi avistado há uns dois dias atrás (21-x de março) na janela do apartamento de uma família teresopolitana. O proprietário do apartamento decidiu dispor no parapeito da janela alguns biscoitos, na esperança de que os pombos pudessem sempre vir à sua janela alimentarem-se. "Pombo é um bicho interessante. Se você parar para ficar olhando eles andando por aí, comendo, voando, enfim, fazendo suas atividades diárias, eles parecem meio perdidos, mas não se importam, sei lá. Só sei que fazia muito tempo que não via um de perto e gostaria de oferecer alimento e a minha amizade à um desses pombos", relatou o proprietário do apartamento.


       Entretanto, foi com grande desapontamento que o dito proprietário constatou nesta manhã (21 de março) que a ingratidão dos pombos só fez sua esposa criticar sua atitude autruísta e idiota. Mas o rapaz tem certeza de que a ingratidão é involuntária."Prefiro pensar nisso como ignorância e não como ingratidão, porque, afinal de contas, o pombo não deve ter encontrado o biscoito ainda, então ele, na verdade, ignora a existência do biscoito no parapeito. Não é desfeita ou ingratidão" justifica o rapaz, visívelmente inseguro do que está dizendo.
       
       Os biscoitos, que o proprietário fez questão de esfarelar para facilitar a alimentação dos pombos, permanecem no parapeito do apartamento e o rapaz não tem intenção de removê-los do local.
 


Se você clicar na imagem pode ser que ela amplie, mas pode ser que não.
Eu não tenho certeza, mas acho que ela já está em um tamanho que dá para visualizar legal, não?
migalhas dos biscoitos jazendo no parapeito da janela do terceiro andar à espera de um pombo, esquilo, ou qualquer outro consumidor faminto.

quarta-feira, 20 de março de 2013

terça-feira, 19 de março de 2013

Apocalicious

       Após uma refeição bem gordurosa (hambúrgueres de nozes com damasco assado e requeijão de açafrão) os sete esquilos da Sete Esquilos Produções decidiram fazer um curta. Pensaram, pensaram e pensaram em um tema, mas não chegaram à conclusão alguma.

       Com um suspiro de indignação o segundo esquilo foi até o refeitório da agência e voltou de lá com um cupcake. Instantaneamente, o sétimo esquilo teve uma ideia para o curta.

       Na época, Esquimolândia estava passando por um conturbado período de guerras esquisitas e uma ameaça de um tal apocalipse emo pairava sobre todos os reinos. Dentre milhões de outras razões, foi para montarem um local onde pudessem ficar seguros e registrar tudo depois que as confusões se encerrassem. Assim, criaram o estúdio e começaram a filmar, animar e editar os acontecimentos e os não acontecimentos.

      O curta de animação em stop-motion Apocalicious é um relato de um não acontecimento baseado em fatos reais, mas entrar nesses detalhes seria desgastante demais. Enfim, com a eminência do emocalípse no ar e o cupcake na mão do segundo esquilo, o primeiro esquilo começou a desenvolver o roteiro da animação.

       Veja o resultado!







realização:
Sete Esquilos Produções


segunda-feira, 18 de março de 2013

Sete Esquilos Produções • Reel 2013


       Na cidade de Cidade Secreta, localizada no estado de Terra de Ninguém, fica a Montanha Secreta, referência em produções audiovisuais.
       É com leve orgulho que a equipe da Caverna Secreta (composta por sete esquilos, fundadores da Sete Esquilos Produções), insiste em mostrar, com nostalgia, um compilado de suas edições e animações para TV e web, para o deleite do povo de Esquimolândia na conturbada época do Emocalipse.






realização:
Sete Esquilos Produções

domingo, 17 de março de 2013

Episódio 01


A Pequena Dama


     Sentada no segundo degrau da escada, Alexia olhava o pequeno cemitério que ficava perto da garagem. Ela era uma menina muito esperta e compreensiva. Talvez, madura demais em relação às outras meninas de sete anos de idade. Sabia que aquela lápide maior e mais bonita, era a de seu pai, o qual ela não chegou a conhecer. Sua mãe lhe contou, certo dia, enquanto bebiam suco na mesa da cozinha, que Ulisses Alves II havia morrido eletrocutado ao tentar consertar um aparelho de som retrô que ele usava para ouvir músicas enquanto escrevia seus Best-Sellers. Porém, havia algo de estranho no modo como a mãe lhe contava a história. Alexia percebia nos olhos de sua mãe um ar de dúvida, como se houvesse acabado de lembrar de que tinha algo a resolver toda vez que falava no assunto da morte de seu pai. Além disso, algo no tom de sua voz, não deixava Alexia acreditar completamente que seu pai não estava vivo, mas sabia que ele estava enterrado ali, naquele pequeno cemitério nos fundos da bela casa onde morava desde que nascera. De qualquer forma, Alexia tinha sempre muita coisa para fazer e nunca ficava muito tempo pensando em um assunto que não faria a menor diferença prática em sua vida. Talvez a dúvida no olhar perdido de sua mãe não passasse de um mecanismo de defesa. Por dentro sua mãe devia sofrer bastante.

    O vento gelado fustigava o seu rosto pálido e frágil de criança. Estava preocupada com seu cabelo, que poderia ficar ressecado se continuasse exposto àquela ventania.

    Entendiada, abriu mão de ficar sentada naquele degrau frio, olhando aquele cemitério monótono e completamente fora de contexto. Deveria haver um jardim ali e não um assustador canteiro de mortos. Levantou-se e entrou pela porta da cozinha, andando distraída, atraída por seus pensamentos que lhe sugeriam milhões de atividades para aquele sábado. Sobressaltou-se com um gritinho quando deu um encontrão forte com o mordomo da família.
    - Desculpa. - disse ela, sem nenhuma emoção.
    O mordomo sorriu e ajustou o seu monóculo para observar a pequena Alexia atravessar a sala de jantar a passos firmes e estudados, dignos de uma moça educada às maneiras britânicas. Com classe, ela contornou o corrimão para subir a escada que levava ao segundo andar da casa, onde ficavam os quartos. Com aquele casacão vermelho, maneiras delicadas, precisas e elegantes, com seu tom frio e sua concentração aguda em tudo oque fazia, a menina parecia uma mulher adulta presa no corpo de uma criança delicada.

    Poucos minutos depois, Alexia desceu com seu material de pintura e levou tudo para a varanda para começar a pintar um belo quadro. Ela era muito disciplinada, concentrada e aprendia tudo muito rápido. A pintura ficou linda e a menina muito orgulhosa.








 "Estava convencido de que se conhecia muitíssimo bem: explorava cada cantinho, cada brecha do próprio psiquismo com uma atenção que hoje em dia não dedicava a nenhuma outra atividade. Passava horas se indagando sobre os seus impulsos, os seus desejos, os seus medos, tentando distinguir os que eram verdadeiros dos que lhe tinham sido inculcados pela educação. Examinava os próprios apegos (tinha certeza de que não conhecia ninguém que fosse tão honesto consigo mesmo, pois todas as outras pessoas se deixavam levar pela vida afora, meio entorpecidas) e tinha chegado a algumas conclusões."  
(trecho de Morte Súbita, de J. K. Rowling)





sábado, 16 de março de 2013

Começando




       Hoje estréia uma série de histórias divididas por temporadas com sete episódios cada uma. Esta primeira série, frisa de uma forma esquiva e quase inexistente a questão do livre arbítrio que dizem que Deus nos concedeu. A primeira temporada, especificamente, foca de forma superficial os dilemas psicológicos de alguns personagens da trama, justamente para não me cansar como autor e nem deixar o leitor entediado.

quarta-feira, 13 de março de 2013

Lembre-se dos Esquecidos

       
       Eu não sei fazer merchandising das minhas coisas. Só sei que estou escrevendo uma série de contos cujo tom ainda não me foi revelado. Mas como desenvolver da história, vou me ambientalizando junto com meus leitores (cajo haja algum).
       Hoje em dia as coisas são mais flexíveis, e eu acredito que as pessoas não precisam simplesmente ler e aceitar o que eu escrevo. Esta série de histórias curtas são baseadas em um jogo de simulação que eu tento jogar em meus inexistentes tempos livres, mas que me permite praticar meu hobby de escrever. Conto com as sugestões dos leitores e prometo acrescentar as ideas sugeridas na hitória!



terça-feira, 12 de março de 2013

Seriado Literário para Leitores Atarefados


Mistérios, intrigas, dilemas familiares e amorosos. Coisas esquisitas e sobrenaturais. Situações engraçadas que tentam ser sérias. Tudo isso na série de contos curtos A Cidade dos Esquecidos.


"Uma história muito interessante surgida de algo inútil."
Ulisses Alves

"Você nunca sabe oque vai acontecer a seguir, nem o autor sabe."
Ulisses Alves


Ulisses Alves