domingo, 28 de abril de 2013

Episódio 7 - Season Finalle


O Fantasma Dourado

A festa estava incrivelmente animada e Alexia dançava intensamente, junto com as outras crianças enquanto Ana, na cozinha, comandava, como nunca, o mordomo, cujo nome desistira de considerar. O homem servia todos os convidados com um sorriso nervoso no rosto e um cansaço inevitável vazava de seus olhos, mas somente o pai de Ana conseguia perceber. Sendo assim, Frederico Diamante decidiu dar uma ajudinha.
- Deixe-me ajudá-lo, rapaz. - disse, levantando-se e ignorando as falsas negações do mordomo solícito.
Passou por Ana, carregando uma bandeja de copos vazios e piscou para a filha. A moça, apesar de sua ansiosidade excessiva, sorriu em retorno. Ana Alves II tinha muita coisa rodopiando em sua mente e não sabia lidar com isso, nunca lidara com esse tipo de excesso de responsabilidade em sua vida. Sempre fora leve, livre e solta. Queria que tudo desse certo na festa da filha, que todos saíssem sem reclamar. Ao mesmo tempo, queria que todos fossem logo embora e que ela pudesse ter uma boa conversa com o maldito fantasma de Snypes! Mas, por um momento, quando, com suas mãos ocupadas com pratos de salgadinhos com bacon, viu Alexia se divertindo com seus amigos, isso lhe trouxe à tona um sorriso e todos os outros pensamentos foram empurrados para longe.
- Ei, vem cá! Vamos dançar essa! - gritou Alexia, animada para um amiguinho, quando um rock lento começou a tocar.
O menino concordou, mesmo não sendo muito fã da música em questão. Porém, mais tarde a música se animou e a playlist prosseguiu cada vez mais agitada noite adentro. Quase nenhum dos poucos adultos presentes na festa conheciam ou gostavam das músicas, mas ignoravam e conversavam sobre seus assuntos bobos uns com os outros. O mais importante era que Alexia estava feliz em sua festa de sete anos de idade. Uma lágrima desceu dos olhos claros de Ana até seu sorriso e ela se sentiu uma chorona. Havia chorado demais ultimamente. O que a fez pensar, com um sorriso de felicidade, que trouxe-lhe à mente a visão de Ulisses. Pronto, tudo retornara, toda a responsabilidade, dúvida e ansiedade de conversar e, pior, barganhar, com aquele cafajeste do Snypes. Vendo que Alexia estava bem e curtindo demais sua festinha, decidiu procurar o fantasma esfarrapado de Snypes no cemitério da casa. No caminho pensou: "que ideia mais idiota manter um cemitério no quintal de casa!".
- Snypes! - bradou!
Apesar de não ouvir nenhuma resposta, percebeu uma relutância fantasmagórica atrás de si. Virou-se e viu o fantasma dourado.
- Ulisses!
Correu e parou de correr imediatamente, pois teve medo de tentar abraçá-lo e fracassar na tentativa, atravessando-o e caindo na grama úmida da noite.
- Oi Ana. - disse o fantasma sorrindo.
O rock agitado e as luzes, os movimentos e os papos dentro de casa se afastaram, diminuíram de tamanho e importância em sua mente instantaneamente. Contudo, não sabia como agir agora que havia encontrado o fantasma de seu marido. Sete anos sem ver alguém, causa certo efeito. Ainda mais quando o alguém é, agora, um fantasma. Principalmente um fantasma que, supostamente, vive na casa há sete anos e nunca se fez aparecer, sendo que ela encontrou dois outros fantasmas indesejáveis antes de, finalmente, encontrar o único fantasma que importava.
- Porque? - Foi tudo o que conseguiu dizer e em sua mente, a pergunta era completa.
Ulisses pairava com as mãos para trás, descontraído.
- E porque esse sorriso, seu idiota! - disse Ana, sorrindo entre lágrimas.
Perguntou-se, de repente, entre a perguntada enviada e a resposta vinda, por que motivo estava no cemitério da casa no dia do festejo do aniversário de Ana.
- Por que eu estou feliz, ora essa.
De um canto escuro do jardim, mergulhado na sombra que a árvore ao lado cemitério projetava, cortando todo o caminho até a garagem, um fantasma cinzento se escondia.
- Ana você está muito tensa. Você sabe que você não é assim. - Ulisses fez uma pausa. - Não era, há sete anos atrás.
- Você não era um fantasma há sete anos atrás. - observou Ana.
Das sombras, Snypes revirava os olhos impaciente.
- Que papo furado,  - rosnou baixinho para si mesmo - e pensar que esse cara era escritor. Que tipo de best-seller vende com essas conversas tolas e sem profundidade?

As luzes dançantes transbordavam de dentro da casa e o som abafado buscava refúgio nos contrastes do jardim. Ana se sentia alheia, completamente perdida diante do brilho dourado do fantasma sorridente à sua frente e angustiosamente distante do clima de festa cujos resquícios caçoavam do jardim dos fundos.
- Bom... - decidiu Ulisses - Chega de papo furado. Vamos à ação!
  E com um sorriso virou-se e adiantou-se em direção a casa de onde transbordavam luzes, música e alegria. Conde Snypes, de seu refúgio escuro arregalou os olhos, confuso com a atitude completamente inesperada de Ulisses. Ana o seguiu, confusa, mas interessada.
Sem cerimônias, Ulisses penetrou a festa da filha. Todos as amiguinhos de Alexia ficaram espantados.
  - Alguém viu Alexia por aí? - perguntou, com um sorriso largo, buscando-a em meio à multidão de crianças.
        As crianças abriram um espaço imediatamente, deixando somente Alexia, em seu lindo vestido vermelho no centro da roda. Menos de um minuto depois, quando Ana entrou na casa, viu Alexia através do fantasma de seu marido. O resto dos convidados havia desaparecido.
- Quem é você?
Perguntou Alexia, sozinha no meio da sala, que agora parecia imensa e solitária.
- Alexia... - começou Ulisses, com a voz rouca e fantasmagórica. - Eu sou seu pai. - Completou, esticando uma mão em garra virada para cima, como o maneirismo de um cantor de ópera.
- Que loucura. - suspirou Alexia, balançando a cabeça.
- Para com isso, Ulisses. - interveio Ana.
- Isso tudo é tão repentino. Eu não sei o que dizer. - confessou Alexia, olhando seus sapatinhos vermelhos.
- Você não precisa dizer nada, querida. Só precisa saber que eu sou seu pai e que as coisas serão diferentes daqui pra frente.
Sorrindo, Ulisses conjurou uma caixinha de presente e entregou à filha.
Ana aproximou-se da filha e a encorajou a abrir com um aceno de cabeça em resposta ao olhar súplico da menina. Ulisses assistia tudo com um sorriso bobo no rosto.
Enquanto Alexia desembrulhava o presente, Snypes se aproximava curioso por trás de Ulisses, vendo, através dele, a menina retirar um objeto dourado e reluzente de dentro da caixa de presente. Snypes arregalou os olhos quando reconheceu o objeto. Lembranças cheias de raiva e adornadas de tristeza lhe vieram à mente e ele olhou a nuca de Ulisses pensando: "safado". Aquele objeto dourado e altamente reluzente foi o causador de sua ruína. Furioso e levemente assustado, o conde afastou-se, atravessando a porta da cozinha e sobrevoou o gramado em direção ao cemitério.
Alexia viu seu próprio reflexo, levemente distorcido pela superfície arredondada do objeto que lhe lembrava um pequeno bule, uma chaleira achatada ou aqueles recipientes onde sua mãe colocava o molho a campanha nas raríssimas ocasiões em que tinha churrasco em casa. A respiração da menina embaçou um pouquinho o objeto e, involuntariamente, Alexia esfregou o objeto delicadamente com a barra de seu vestido.
Ulisses e Ana se olhavam e ele piscou um olho para sua viúva. Então, uma fumaça densa e roxa escura começou a vazar pelo bico do objeto. Depois, uma fumaça azul clara com um brilho mágico se misturou à fumaça roxa e tudo virou um show de brilho e fumaça. Quando os efeitos mágicos se dissiparam no ar, uma moça vestida semelhante à uma dançarina do ventre e de pele azul, piscou algumas vezes e seus olhos enquadraram Ana e Alexia.
- Olá pessoas! - exclamou. - E fantasmas! - Acrescentou, quando percebeu a presença de Ulisses.
Voltou-se, então, para Alexia novamente.
- Você tem direito à três desejos, menina linda.
Sem muita emoção, sem nenhum sorriso, Alexia levantou-se, segurando a presente com as duas mãos e disse à genia, com seriedade:
- Siga-me.
E subiu as escadas em direção ao seu quarto.






"- Boa noite - abaixou-se e sentou-se pesadamente sobre suas ancas -, sou o Prato do Dia. Posso sugerir-lhes algumas partes do meu corpo? - Grunhiu um pouco, remexeu seus quartos traseiros buscando uma posição mais confortável e olhou pacificamente para eles."
(Douglas Adams, em O Restaurante no Fim do universo) 



quinta-feira, 25 de abril de 2013

Deslocado

Parte I: Verão


       - Você precisa descansar mais. Você está parecendo um zumbi, sabia?
       - Eu sei, mas eu não posso. Eu gostaria muito de ir descansar tranquilo hoje, mas eu não posso.
       A menina apoiou seu copo de cerveja na mesa com delicadeza, secou a mão levemente na toalha da mesa e em seguida estendeu a mão pequena e macia até os dedos do rapaz. Ao contato, ele não ergueu o vista do fundo do seu copo de cerveja, e sem sequer olhar nos olhos de quem lhe tocava delicadamente ele disse:
       - Eu não sei quando exatamente tudo ficou tão sensível.
       Agora ele olhou para ela, e ela assustou-se um pouco com as enormes olheiras que circundavam os olhos dele.
       - Eu lembro que até pouco tempo atrás, eu podia sair e participar do mundo, falar coisas sem pensar muito, fazer coisas naturalmente. Mas de repente, tudo isso mudou.
       Fez uma pausa e olhou para o teto do restaurante, caçando desesperadamente explicações dentro de si e desesperançoso quanto conseguir traduzi-las em palavras.
       - Agora, tudo que eu falo tem uma repercussão muito grande. Tudo o que eu não digo também. Qualquer passo que eu dou, precisa ser meticulosamente esquematizado antes, e isso está me enlouquecendo.
       - Eu não entendo que tantas coisas você tem nessa sua cabecinha, meu amor. Sinceramente eu não sei.
       - E isso agrava muito a situação. Ninguém sabe, ninguém me acompanha. Eu estou completamente sozinho. Tudo o que eu digo e tudo o que eu faço tem uma natureza única e, aparentemente distante de todo mundo. Para piorar a situação, minhas ações, cuja natureza é desconhecida por todas as pessoas que me cercam, são avaliadas e justificadas segundo a vontade de cada um.
       A garota não compreendeu inteiramente o que ele quis dizer e sendo assim voltou para seu copo de cerveja.
       - Tudo o que faço, tudo o que eu falo... tem um peso muito grande. - repetiu ele derradeiramente e tomou um bom gole de sua cerveja.


- Teresópolis, 11 de dezembro de 2010 - 138.069 - 138.060



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domingo, 21 de abril de 2013

Episódio 6

A Proposta do Conde
Finalmente Ana se deixou cair em desespero. Passou pela porta da cozinha e saiu para a varanda, respirou o ar frio da noite e emitiu aquela doce nuvem de fumaça no ar gélido da noite que se iniciava. À sua direita repousava, exibicionista, o cavalete orgulhoso que segurava o novo quadro pintado por Alexia. Se o cavalete fosse uma pessoa, se sentiria completamente desapontado por ter sido ignorado por Ana, que desceu as escadas com lágrimas nos olhos e uma pedra na garganta. A mulher abriu o portão do pequeno cemitério com um empurrão, e a intensidade desse gesto lhe trouxe, finalmente, a pedra que segurava na garganta à tona. E as lágrimas desceram como rios. Se a lápide do homem à sua frente fosse o homem à sua frente, este não se decepcionaria pela bela paisagem que o rosto de Ana conseguia ser naquele momento. Quando sorria, era o seu sorriso diamante, resplandescente como um dia de sol fresco e encantador, e quando chorava, tinha o poder e a beleza selvagem e firme de um cenário de cachoeiras em um dia de primavera.
Sem dar a mínima para o cemitério, olhando apenas, e apenas mesmo por um milésimo de segundo para a lápide de seu marido falecido, ela virou à esquerda e desceu até o porão para preparar um drink para si.

Enquanto pegava, na prateleira por detrás do bar, a garrafa contendo o líquido verde, fosforescente e tremulante assistidos por detrás de seus graciosos olhos encharcados, percebeu, que o quarto do mordomo, - cujo nome não se lembrava e, por incrível que pareça, ela tentou, mesmo naquela situação, para sua surpresa, - ficava do outro lado da escada. Foi por um segundo, sua mente já estava prestes a voltar a atenção para a bebida que estava prestes a preparar quando a percepção de que o mordomo não estava em sua cama tomou conta de sua atenção.
- Onde está esse maldito? - perguntou Ana em voz alta, com raiva, mas num fio de voz choroso.
Uma voz atrás dela respondeu a pergunta, imediatamente:
- Com a filha dele.
Houve uma pausa dramática, assustadora, frustrante para Ana, mas saborosa para o dono da voz grave atrás dela.
Ela não se delongou a se virar, como geralmente as pessoas fazem nos filmes que ela gostava de assistir quando criança. Ela se virou, normalmente, logo após receber a resposta do estranho e seus olhos enquadraram algo sinistro. Ainda mais sinistro por causa das lágrimas que ainda borravam a sua visão. Uma forma cinza escura, quase completamente negra, projetava-se da escuridão que revestia o restante do porão. Uma forma cinza, brilhosa, mesmo assim, apagada, como que rasgada e encardida, como um velho pano de chão sujo que se aproximava flutuando.
- O que disse?
Ana segurava a garrafa em sua mãos trêmulas e sustentava um olhar firme e sóbrio diretamente para a forma que vinha se aproximando, agora mais devagar.
- Eu aceitaria um drink. Ou, simplesmente uma bela dose daquela garrafa branca ali, sabe? Se ela não fosse passar por mim como água transpassa fumaça.
Disse a forma, com sua voz grave, carregada de amargura seca e enferrujada.
  - O que o senhor faz em minha casa? - perguntou Ana, recomeçando a chorar. - Vá embora, por favor!
- Não posso. - respondeu, sinceramente, quase a desculpar-se.
Ana pegou a taça embaixo do bar, encheu-a do líquido verde, contando até cinco, pois sabia que cinco segundos daquele dosador equivaleria à uma dose de aproximadamente quarenta e cinco ml da bebida, oque era o suficiente para um começo promissor em sua decadência emocional repentina.
- A senhora não é fantasma - fez uma pausa, com um sorriso macabro que se sobressaiu na ligeira claridade que contrastava com o fundo de completa escuridão. O sorriso pairou bem na frente de Ana, que se assustou, e o fantasma completou - mas sendo o que a senhora é, essa quantidade não lhe fará nem cócegas nos ânimos.
Desgostosa, afinal ela não suportava dar razão àquela criatura que tinha razão - aliás, ela jamais gostou de dar razão à qualquer um que tivesse razão quando ela cai na tentação, ou na fraqueza, de não ter razão - ela abandonou a pequena taça cintilante no balcão do bar e contornou-o com firmeza no olhar e perseverança no trago que sorveu da garrafa. Pairou assustadoramente diante de seu companheiro indesejável.
- Senhora Alves II, não sou inimigo. Posso talvez, ser inconveniente, mas isso é devido à minha maldição de vagar pelas bandas por onde tive o desprazer de falecer.
Desculpou-se o fantasma. Agora que as lágrimas se secaram, Ana podia ver claramente que na sua frente, pairava o fantasma que encontrara em sua varanda anteriormente.
- Porque o... o... aquele... - parou para respirar e sentir a bebida fazer seu efeito e recomeçou, - Por que motivo nosso mordomo está no quarto de minha filha. Eu não sou de meias palavras e nem um pouco tolerante... quando estou intolerante! Senhor.
Conde Snypes riu.
- Não. Foi um mal entendido. O homem que está no quarto de sua filha é seu falecido marido. Ele não cansa de olhá-la enquanto dorme, e quem poderia culpá-lo. Sua filha é uma preciosidade, com todo o respeito, e ele é um homem muito sensível. E, é claro... é filha dele!
Ana estava com apenas um quarto do conteúdo dentro da garrafa balançando em suas mãos ainda trêmulas, até menos.
- Meu marido? - perguntou, chorando.
  - Sim, senhora.
Conde Snypes deixou pairar o silêncio, dominando-o da forma que podia, sustentando Ana com o olhar, para que ela lhe desse a chance de prosseguir antes de dizer algo mais. Contudo, Snypes era uma alma antiga e conhecia as pessoas, sabia que ela não falaria mais nada antes que ele pudesse se pronunciar.
- A senhora devia trazê-lo de volta. - disse, sustentando um olhar firme, sincero e grave.
- Como? - perguntou Ana, de supetão.
Snypes sorriu. O que foi um leve erro, pois, Ana, apesar de ser uma alma jovial e animada, apesar de resoluta e desafiadora, tinha a mania de se manter na defensiva quando atacada por um sorriso que ameaçava sua fraqueza. O fantasma de Snypes já havia aprendido isso e, por um segundo lamentou o erro, mas, no mesmo segundo, soube que era uma velha e desgastada alma que podia se permitir errar. Entretanto, consertou seu engano à tempo. Quando Ana abriu os lábios para dizer algo, desarmou seu sorriso e disse:
- É difícil, mas posso ensiná-la!
Trocaram olhares.
- Vou ensiná-la.
Afirmou.
- Mas com uma condição, querida. - se deixou errar e sorrir novamente. Sabendo que seu erro, sequer seria percebido pela outra, pois a outra, sem dúvidas, estava embriagada pela informação esperançosa recebida.
Pondo a garrafa vazia no balcão, sonoramente, Ana perguntou, com a língua enrolada e rastejante:
- O que você quer?
- O mesmo que ele. - sorriu, sentado no segundo degrau da escada.
Ana contornou o bar resoluta, agressiva e transpassou o fantasma, que, na verdade, até assustou-se. Não esperava aquilo. A moça subiu as escadas, pisando alto nos degraus, olhando friamente o túmulo de seu marido. Saiu do pequeno cemitério domiciliar e foi até o quarto da filha. Satisfatoriamente embriagada abriu a porta do quarto da filha, sem o menor cuidado, fazendo Alexia sobressaltar-se e lhe lançar um olhar macabro. Um par de pérolas cor de mel brilhavam no escuro, pairando perante o rosto lindo e inocente que iluminavam. Ana vasculhou o quarto com o olhar e nada viu que fosse estranho.
- Desculpe, filha.
- Está desculpada, mãe. - respondeu Alexia, fria, mas sincera.
Cautelosamente, Ana fechou a porta do quarto da menina e endereçou-se à seu próprio aposento de dormir.
A choradeira de Ana era interminável, e isso era tão agradável agora. Sentindo-se embriagada, leve, liberta dentro da própria prisão, ela soluçava chorando e rindo ao mesmo tempo. Contida, para não perturbar Alexia no quarto ao lado. Não iria tomar banho, apenas iria deitar-se e ficar olhando a lua pela janela até adormecer. Pensando em como seria divertido, errante, agradável, lindo e impossível, sentar na beira da calçada com o fantasma de Ulisses e passar a madrugada conversando sobre a vida e a morte, os velhos tempos e os novos tempos, as pessoas e os insetos. Ela lembrou-se de que tinha se esquecido de como era gostoso discutir com ele tudo aquilo que eles não concordavam, e eles não concordavam em quase nada, ela sorriu.
O brilho da lua banhava seu rosto, mas um brilho diferente alcançava o pé de sua cama e subia até onde ficava seu umbigo, por detrás de todo aquele cobertor. Mais desapontada que surpresa, Ana percebeu que uma fantasma balançava lentamente em sua cadeira de balanço de leitura, diante da lareira que ladeava a estante de livros de autores que não eram da família. Ana suspirou.
- Eu sou uma fantasma, Ana. Minhas primeiras palavras, sempre serão, inevitavelmente, dramáticas. Seja lá o que eu disser, sentada aqui dessa cadeira balançante...
- Eu entendi! - interrompeu Ana, sem paciência. - A senhora precisa de algo, ou eu posso dormir agora?
A fantasma, de alguma forma, suspirou. E Ana percebeu.
- A senhora precisa de alguma coisa, também, senhora...?
Sem responder, a fantasma levantou-se da cadeira que fazia balançar e flutuou até perto da porta do quarto.
- Não confie demasiadamente em Snypes, Ana.
Após um olhar de pena, desceu suas pálpebras brilhosas sobre seus olhos, virou-se e atravessou a porta do quarto de Ana como se fosse um portal.




"Não sei. Se aquele abismo e o que ele continha eram reais, não resta nenhuma esperança. Então, com toda certeza, paira sobre este mundo do homem uma zombeteira e incrível sombra fora do tempo."
(H.P. Lovecraft, em A Cor que Caiu do Céu) 



sexta-feira, 19 de abril de 2013

Estatísticas da Manhã Seguinte

Dia 09

       - Não se trata de uma contagem regressiva, seu lunático. - disse o âncora do jornal da noite. - São estatísticas.
       Apontou para um trecho no jornal amarrotado em sua mão que mostrava, perdido entre palavras agourentas, os números "138.070". O rapaz que editava as matérias se limitou a repousar o olhar cansado na reportagem amassada.
       - Você tem que levar as coisas mais a sério, irmão.
       O rapaz olhou o apresentador nos olhos por um breve instante. Havia tanto que se poderia dizer, concordar, discordar, explicar, implicar. Eram tantas opções que o rapaz decidiu simplesmente exibir uma expressão de súplica cansada e dar meia volta.
       O jornalista olhou enquanto o jovem editor de TV afastava-se cabisbaixo ao longo do estreito corredor branco.



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domingo, 14 de abril de 2013

Episódio 5


Expansão Mental

Um feixe de luz pareceu passar por debaixo de porta do quarto. A noite estava clara e a lua estava cheia. Cheia de brilho, tamanho e algo mais. Esse algo mais que a lua transmitia àquela noite, incomodava Ana de uma forma esquisita, deixando-a ansiosa. Com vontade de sair, ou simplesmente fazer uso daquela churrasqueira na varanda, perto do cavalete que Alexia adorava. Eram onze e vinte e três da noite e Ana estava tentando dormir à mais de duas horas. Quando o feixe de luz extremamente branco e brilhante, até mesmo cintilante, passou pelo corredor, emitindo um feixe curto e de pouca intensidade, ela estava no ápice de seus devaneios. Ela não teve medo, sentiu-se apenas curiosa e levantou-se da cama feliz e decidida a descobrir se aquela luz era transmitida pelo que ela suspeitava (e gostaria) que fosse.
Sem saber exatamente por que, ela abriu a porta e seguiu pelo corredor até a varanda. Lá, encontrou uma pessoa a balançar tranquilamente na cadeira de balanço da esquerda. Pela sua experiência de vida, as características daquela pessoa levavam Ana Alves II a crer que se tratava de um fantasma. A moça de pé, usando seu pijama curto e sentindo frio, e o homem brilhante, cintilante e transparente sentado confortavelmente na cadeira de balanço, olhando o pequeno cemitério lá embaixo, no canto do quintal, não se espantaram com a presença um do outro. Para Conde Snypes, a existência de pessoas lhe era incômoda quando ainda era uma pessoa. Depois que aquela pessoa mística, vestida com uma capa negra esfarrapada, com um capuz que lhe ocultava um rosto que Snypes acreditava não existir, surgiu do nada com uma foice na mão e lhe orientou a fazer o que mandava, o velho conde passou a ter uma visão menos rabugenta sobre as pessoas.
Ana ia dizer alguma coisa, mas não achou nada útil para dizer. Na verdade, havia um fantasma sacudindo-se tranquilamente na cadeira de balanço da varanda de sua casa, o que ela poderia dizer? Conde Snypes, continuou balançando. Não se deu ao trabalho de olhar para trás, mesmo sabendo que a dona da casa estava ali, pensando em algo à dizer e sabendo que não havia nada para ser dito. O fantasma sentia-se tão livre e tranquilo que não se culpou por seu atrevimento em estar na residência alheia sem permissão. Contudo, uma residência, é o nome que se dá á uma construção repleta de paredes onde as pessoas se encerram quando querem. Snypes não estava na casa de Ana Alves II. Estava no mundo, e tinha o direito de permanecer onde quisesse, pois o mundo não era de ninguém, embora todo alguém tenha o hábito de delimitar espaços físicos e morais e atribuir ali ideias de posse. Quando Conde Snypes cansou de olhar o cemitério, naquela noite tão agradável, o velho fantasma levantou-se da cadeira e passou por Ana, - que ainda estava de pé, confusa, porém mantendo um ar superior de dona da casa, tentando dizer com o olhar que era ela quem mandava ali, - olhando-a tranquilamente, inofensivamente  informando com os olhos brilhantes e transparentes, que voltaria quando quisesse.
Naquela noite, Ana não conseguiu dormir. Deu uma cochilada de aproximadamente umas três horas e levantou-se da cama às sete e sete, quando ouviu Alexia descer as escadas.
Durante o café da manhã, Alexia, intrigada, deixou-se levar pela curiosidade e perguntou à mãe o que era aquela caixinha de suco vermelho que a mãe sempre tomava, de manhã, de tarde, ou de noite. A mãe ouviu a pergunta, mas deixou-a ir embora, subconsciente afora, pois tinha urgência em informar a Alexia que havia tido contato com o tal fantasma.
- Mas mãe, o fantasma que eu vi não era velho e nem era careca. Também não era prateado. Ele era um homem novo, amarelo. - baixou a cabeça em dúvida e perguntou, mas para si mesma, que para a mãe - fantasmas se sujam?
Ana deixou-se cair para trás no encosto da cadeira, perdida por não ter controle da nova situação e feliz pela liberdade de saber que existia uma nova situação que prometia que as coisas não precisavam ser tão chatas e pequenas. Com um suspiro e um ar de desagrado deixou escapar um desabafo:
- Então temos mais de um fantasma em casa.
A menina riu vividamente, de uma maneira que parecia até conspiratória, mas não era. Era somente o jeito padrão de Alexia sorrir quando estava realmente animada.
Alexia comeu a última colherada de seu cereal matinal e pensou em perguntar à mãe, novamente, sobre a única coisa que ela consumia nas refeições: aquele suco vermelho. Mas desistiu, pois, subitamente, foi tomada pela excitação de terminar o capítulo no qual estava trabalhando de seu livro. Desejou bom dia à sua mãe, com uma linda vivacidade nos olhos arregalados e, como um raio disparou para o escritório no último andar da casa. Durante sua saída, deixou para trás a repreensão da mãe por ter quase deixado cair no chão a cadeira, e por ter largado a colher na mesa, que respingou leite por toda a mesa.
Praguejando docilmente contra sua filha, foi lá fora, na caixa de correio receber as contas. Cumprimentou o mordomo, amaldiçoando a si mesma por não se lembrar do nome do homem. Enquanto ele limpava o gramado com aquelas vassouras de jardim, pôs no bolso as contas à pagar. Porém, para sua surpresa, havia uma caixa relativamente grande e quadrada. Empolgada, a moça desembrulhou ali mesmo o pacote. Deu um sorriso infantil e verdadeiro quando leu na capa do livro ainda meio embrulhado o título: Um Golpe Sangrento em Hong Kong. Ainda com um sorriso bobo de criança no rosto, involuntariamente olhou para o mordomo, que estava tão concentrado em sua tarefa que não percebeu. Ignorada, Ana entrou em casa para, com orgulho, guardar seu livro na estante onde guardava todos os livros escritos pelos membros da família, no escritório de seu falecido marido.
Uma vez no escritório, empolgada, tentou mostrar o livro para a filha, mas Alexia, mostrou-se grosseira, pois estava concentrada e alheia, imersa em suas histórias de fantasmas e suas fantasias esperançosas de conhecer o tal fantasma dourado. Com um revirar de olhos, Ana guardou com carinho seu livro na estante, ao lado de Um Drink Sangrento em Paris e virou-se para sair. Mas antes, foi até a filha e exigiu que a menina lhe olhasse nos olhos. Quando teve a atenção da filha, ratificou que a mesma não deveria se atrasar para a escola. Deu-lhe um beijo na cabeça, pois na testa, que era a sua intensão, não era mais possível, por que a garota já havia voltado seus olhos arregalados de empolgação para a tela do notebook, e então Ana saiu do escritório.
Quando saiu pelo jardim, em direção ao carro de sua colega que lhe dava carona para o trabalho, passou caminhando lentamente, olhando intrigada para o mordomo que ainda estava limpando no mesmo local. Teve uma leve impressão de que o homem estava enrolando para não fazer as outras tarefas.
Entrou no carro e cumprimentou a colega de trabalho, que manobrou na rua, com habilidade, e puseram-se à caminho do trabalho.





"Sonho em escrever um romance em que todos os encontros que um homem tem durante a sua existência, fugazes ou importantes, conduzidos por aquilo a que chamamos o acaso, ou pela necessidade, desenhassem igualmente figuras, exprimissem ritmos e fôssem o que talvez sejam: um discurso sàbiamente planejado, dedicado a uma alma para que se realize totalmente, e do qual esta não apreende, ao longo da vida, mais do que algumas palavras sem continuidade."
(Louis Pauwels, em O Despertar dos Mágicos) 

quinta-feira, 11 de abril de 2013

Vale do Paraíso

Dia 07

       Sua voz era um sussurro enferrujado, facilmente surrupiado pelo vento. Com um sorriso vazio no rosto ele olhou a rua à sua frente, na qual o único vestígio de vida era, curiosamente, uma lâmpada no poste que morria e levava consigo um pouco da luz daquela noite chuvosa. O homem encapuzado rosnou em seu silêncio atrofiado: "Eis um Vale do Paraíso para minha alma."
       A cada passo adiante, deixava para trás uma lâmpada a se apagar, uma luz a morrer, um pedaço a mais de trevas a nascer. Caminhava rua a cima em direção a rampa de entrada para o cemitério da cidade. Conseguiu ainda ouvir, na distancia longínqua, além do som da chuva, o carro de seu repórter favorito cessar o ronco de seu motor. Naturalmente o rapaz estaria entrando em sua casa para descansar. O homem de sobretudo negro, camuflado na noite e na solidão, adentrou o cemitério para, também, descansar um pouco.

"138.077 habitantes", ele pontuou em seu caderno de anotações. Soprou a vela até a morte e imergiu na escuridão.



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domingo, 7 de abril de 2013

Episódio 4


Propósitos

       As questões do exercício de geografia estavam fáceis de serem resolvidas. Mas Alexia estava de mau humor. Não só porque se desentendeu com um coleguinha na escola que disse que ela era muito chata e sem graça, mas também porque havia sido assaltada por um pensamento incômodo, porém lógico. Ela testemunhou a sua professora de matemática dizendo à uma coleguinha de sua sala que os alunos não estudavam para seus pais e nem para seus professores. Então, sendo assim, Alexia instantaneamente questionou a importância de fazer uma avaliação escrita, cujo único objetivo era provar para sua professora que ela havia ensaiado os assuntos que a mulher havia sugerido. Não fazia sentido para a menina, já que ouviu, da boca da mulher, a confirmação de que ela estudava para si mesma. Se ela não estudava para satisfazer sua professora, então porque ela tinha que provar qualquer coisa para aquela pessoa?

       Alexia, emburrada, continuou a fazer a sua tarefa de casa. Após terminar, revisou com atenção, conforme sempre fazia. No entanto, de repente, alegrou-se, pois lembrou que seu aniversário estava chegando. Ana estava ocupadíssima com os preparativos e ligando para os convidados. A festa seria dali a três dias e havia muito a ser feito. 
Contudo, a vida de Ana e Alexia, estava bastante monótono e, Ana, particularmente, andava absurdamente aflita e muito atarefada no trabalho e se sentia péssima em não conseguir dar a devida atenção à sua filha, apesar de estar se dedicando, o máximo que podia, à festinha da menina. Alexia, por sua vez, parecia sempre despreocupada, e, ainda assim, atenta para que todas as suas atividades fossem feitas da forma mais eficiente possível, mas de uma forma nem um pouco desgastante para si. E esse esforço de manter-se atenta, mas despreocupada e o desgaste de tentar fazer esse esforço não ser desgastante, estava desgastando a menina, que, no final das contas, no fundo, ela sabia que estava, além de desgastada, preocupada em estar desgastada quando o dia da festa chegasse. E por causa disso tudo, acabava ficando, constantemente, desatenta.
       No ápice de sua ansiedade, Ana largou o computador e desceu as escadas silenciosamente para não anunciar a sua proximidade. Da porta da cozinha observou sua filha compenetrada em suas tarefas escolares. Nesse momento, decidiu, impulsivamente, se dedicar a ressuscitar seu marido morto. Conversaria com Alexia em um momento oportuno sobre a história do fantasma que ela havia visto e investigaria isso. Para sustentar sua decisão, avaliou o argumento de que jogava na loteria, mas nunca ganhava. Jogava porque poderia vencer, independente de acreditar ou não na vitória. Da mesma forma, achava-se um tanto boba em acreditar em fantasmas, mas, logicamente, o fato de ela acreditar ou não, de maneira alguma interferiria na realidade de eles existirem ou não. Pouco antes de dar meia volta e subir os três andares de volta para o escritório, afim de terminar logo a resenha que estava escrevendo sobre a quantidade absurda de açúcar nos néctares da cidade, deteve-se no pé da escada e pensou sobre o vento, que não era sólido e nem visível, mas mesmo assim, movia as coisas, resfriava outras e até emitia som. Lembrou do fogo, que também não é sólido, não ultrapassa suas dimensões, que, aparentemente são definidas pelo combustível de origem, ou algo assim, e causa transformações absurdamente intensas nas coisas. Claro que tudo isso, por mais mágico que parecesse, tinha uma explicação coerente. Então, porque os fantasmas não podiam ter uma explicação coerente. É mais fácil afirmar que eles não existem.
       Quando chegou ao segundo andar, seus pensamentos ainda estavam obcecados pelo assunto e teve que se questionar por que os fantasmas não apareciam nos jornais sérios. Porque eram tão reclusos. Nunca havia lido no jornal principal jornal da cidade, uma manchete do tipo: "Alma Penada Sequestra Três Crianças", ou "Fantasma de João Guilherme Santos de Azevedo é Preso por Porte Ilegal de Armas de Fogo". E não era porque filtravam, censuravam, ou qualquer coisa assim, ela sabia, pois trabalhava para o principal jornal da cidade. Já no terceiro andar da casa, não pode deixar de se perguntar sobre a forma de um fantasma. "A pessoa morrer e virar fantasma, não parece coerente, mas pode ser quase aceitável, mas porque a roupa também morre e vira fantasma junto com o falecido? As roupas são seres vivos?", pensou Ana, incrédula. Decidiu escrever sobre isso assim que terminasse sua resenha sobre o excesso de açúcar nos néctares.


       Após terminar sua tarefa de casa, Alexia sentou-se na escada da varanda e começou a se preocupar com o que faria da vida profissionalmente. Não havia nada específico que lhe parecesse importante, de uma maneira geral. Por um momento, ao olhar para as lápides no pequeno cemitério no canto do jardim, pensou que se não fizesse nada, ao morrer, sairia no lucro, pois não deixaria nenhuma conquista ser anulada pela sua morte. Caso se esforçasse bastante e conquistasse muitas coisas, a morte faria com que todas as suas conquistas ficassem para trás e todo o esforço da menina teria sido em vão, pois não usufruiria de nenhum dos resultados de suas vitórias. Temeu que sua vida fosse preenchida, do início ao fim, por uma busca pelas coisas que só encontraria quando já não tivesse forças e nem vivacidade para apreciar. E quando passasse últimos os anos de sua vida rodeada de coisas que passou a vida buscando e agora não tinha forças para aproveitá-las, aquele homem de capuz preto e aquela lâmina macabra, viria lhe dar ordens e lhe deixaria perambulando pela casa em sua forma envelhecida e fantasmagórica pelo resto da eternidade, até que não houvesse mais planeta para ela vagar, e então a menina se pegou imaginando-se flutuando perdida no espaço sideral. Visualizou-se, em sua mente, flutuando em direção à lua, moraria por lá. Aí então pensou que algo poderia acontecer com a lua também e ficou absurdamente preocupada e desatenta, imaginando seu futuro solitário e sem rumo, pela estrada sem fim pavimentada de anos-luz sequenciais na escuridão absoluta do universo.


       Repleta de pensamentos conflitantes, levantou-se e foi dormir na sua cama rosa e confortável  no segundo andar da casa. Gostaria muito de sonhar com aquele fantasma amarelado novamente, e prometeu a si mesma que se esforçaria para tentar conhecê-lo pelo menos um pouquinho, pelo menos o nome gostaria de saber.





"A coisa mais incompreensível sobre o mundo que nos rodeia é que ele é compreensível."
(Albert Einstein)


sábado, 6 de abril de 2013

Amanhã: Episódio 4 de A Cidade dos Esquecidos

Amanhã em A Cidade dos Esquecidos:

       ""A pessoa morrer e virar fantasma, não parece coerente, mas pode ser quase aceitável, mas porque a roupa também morre e vira fantasma junto com o falecido? A roupa é um ser vivo?", pensou Ana, incrédula."


(trecho do próximo capítulo de A Cidade dos Esquecidos)









quinta-feira, 4 de abril de 2013

Notícias de Teresópolis

Dia 03

       Teresópolis: 138.080 habitantes. A chuva desce dos céus incessantemente, deslizando pelo sobretudo negro do homem sem passado que se afasta no cruzamento onde termina a avenida principal. O rapaz liga o para brisa traseiro e pensa ver o vulto de um homem virar uma esquina com uma calma zombeteira.

       Ao menos a chuva abafa seus pensamentos, o que lhe possibilita uma noite de sono mais tranquila.



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