domingo, 28 de abril de 2013

Episódio 7 - Season Finalle


O Fantasma Dourado

A festa estava incrivelmente animada e Alexia dançava intensamente, junto com as outras crianças enquanto Ana, na cozinha, comandava, como nunca, o mordomo, cujo nome desistira de considerar. O homem servia todos os convidados com um sorriso nervoso no rosto e um cansaço inevitável vazava de seus olhos, mas somente o pai de Ana conseguia perceber. Sendo assim, Frederico Diamante decidiu dar uma ajudinha.
- Deixe-me ajudá-lo, rapaz. - disse, levantando-se e ignorando as falsas negações do mordomo solícito.
Passou por Ana, carregando uma bandeja de copos vazios e piscou para a filha. A moça, apesar de sua ansiosidade excessiva, sorriu em retorno. Ana Alves II tinha muita coisa rodopiando em sua mente e não sabia lidar com isso, nunca lidara com esse tipo de excesso de responsabilidade em sua vida. Sempre fora leve, livre e solta. Queria que tudo desse certo na festa da filha, que todos saíssem sem reclamar. Ao mesmo tempo, queria que todos fossem logo embora e que ela pudesse ter uma boa conversa com o maldito fantasma de Snypes! Mas, por um momento, quando, com suas mãos ocupadas com pratos de salgadinhos com bacon, viu Alexia se divertindo com seus amigos, isso lhe trouxe à tona um sorriso e todos os outros pensamentos foram empurrados para longe.
- Ei, vem cá! Vamos dançar essa! - gritou Alexia, animada para um amiguinho, quando um rock lento começou a tocar.
O menino concordou, mesmo não sendo muito fã da música em questão. Porém, mais tarde a música se animou e a playlist prosseguiu cada vez mais agitada noite adentro. Quase nenhum dos poucos adultos presentes na festa conheciam ou gostavam das músicas, mas ignoravam e conversavam sobre seus assuntos bobos uns com os outros. O mais importante era que Alexia estava feliz em sua festa de sete anos de idade. Uma lágrima desceu dos olhos claros de Ana até seu sorriso e ela se sentiu uma chorona. Havia chorado demais ultimamente. O que a fez pensar, com um sorriso de felicidade, que trouxe-lhe à mente a visão de Ulisses. Pronto, tudo retornara, toda a responsabilidade, dúvida e ansiedade de conversar e, pior, barganhar, com aquele cafajeste do Snypes. Vendo que Alexia estava bem e curtindo demais sua festinha, decidiu procurar o fantasma esfarrapado de Snypes no cemitério da casa. No caminho pensou: "que ideia mais idiota manter um cemitério no quintal de casa!".
- Snypes! - bradou!
Apesar de não ouvir nenhuma resposta, percebeu uma relutância fantasmagórica atrás de si. Virou-se e viu o fantasma dourado.
- Ulisses!
Correu e parou de correr imediatamente, pois teve medo de tentar abraçá-lo e fracassar na tentativa, atravessando-o e caindo na grama úmida da noite.
- Oi Ana. - disse o fantasma sorrindo.
O rock agitado e as luzes, os movimentos e os papos dentro de casa se afastaram, diminuíram de tamanho e importância em sua mente instantaneamente. Contudo, não sabia como agir agora que havia encontrado o fantasma de seu marido. Sete anos sem ver alguém, causa certo efeito. Ainda mais quando o alguém é, agora, um fantasma. Principalmente um fantasma que, supostamente, vive na casa há sete anos e nunca se fez aparecer, sendo que ela encontrou dois outros fantasmas indesejáveis antes de, finalmente, encontrar o único fantasma que importava.
- Porque? - Foi tudo o que conseguiu dizer e em sua mente, a pergunta era completa.
Ulisses pairava com as mãos para trás, descontraído.
- E porque esse sorriso, seu idiota! - disse Ana, sorrindo entre lágrimas.
Perguntou-se, de repente, entre a perguntada enviada e a resposta vinda, por que motivo estava no cemitério da casa no dia do festejo do aniversário de Ana.
- Por que eu estou feliz, ora essa.
De um canto escuro do jardim, mergulhado na sombra que a árvore ao lado cemitério projetava, cortando todo o caminho até a garagem, um fantasma cinzento se escondia.
- Ana você está muito tensa. Você sabe que você não é assim. - Ulisses fez uma pausa. - Não era, há sete anos atrás.
- Você não era um fantasma há sete anos atrás. - observou Ana.
Das sombras, Snypes revirava os olhos impaciente.
- Que papo furado,  - rosnou baixinho para si mesmo - e pensar que esse cara era escritor. Que tipo de best-seller vende com essas conversas tolas e sem profundidade?

As luzes dançantes transbordavam de dentro da casa e o som abafado buscava refúgio nos contrastes do jardim. Ana se sentia alheia, completamente perdida diante do brilho dourado do fantasma sorridente à sua frente e angustiosamente distante do clima de festa cujos resquícios caçoavam do jardim dos fundos.
- Bom... - decidiu Ulisses - Chega de papo furado. Vamos à ação!
  E com um sorriso virou-se e adiantou-se em direção a casa de onde transbordavam luzes, música e alegria. Conde Snypes, de seu refúgio escuro arregalou os olhos, confuso com a atitude completamente inesperada de Ulisses. Ana o seguiu, confusa, mas interessada.
Sem cerimônias, Ulisses penetrou a festa da filha. Todos as amiguinhos de Alexia ficaram espantados.
  - Alguém viu Alexia por aí? - perguntou, com um sorriso largo, buscando-a em meio à multidão de crianças.
        As crianças abriram um espaço imediatamente, deixando somente Alexia, em seu lindo vestido vermelho no centro da roda. Menos de um minuto depois, quando Ana entrou na casa, viu Alexia através do fantasma de seu marido. O resto dos convidados havia desaparecido.
- Quem é você?
Perguntou Alexia, sozinha no meio da sala, que agora parecia imensa e solitária.
- Alexia... - começou Ulisses, com a voz rouca e fantasmagórica. - Eu sou seu pai. - Completou, esticando uma mão em garra virada para cima, como o maneirismo de um cantor de ópera.
- Que loucura. - suspirou Alexia, balançando a cabeça.
- Para com isso, Ulisses. - interveio Ana.
- Isso tudo é tão repentino. Eu não sei o que dizer. - confessou Alexia, olhando seus sapatinhos vermelhos.
- Você não precisa dizer nada, querida. Só precisa saber que eu sou seu pai e que as coisas serão diferentes daqui pra frente.
Sorrindo, Ulisses conjurou uma caixinha de presente e entregou à filha.
Ana aproximou-se da filha e a encorajou a abrir com um aceno de cabeça em resposta ao olhar súplico da menina. Ulisses assistia tudo com um sorriso bobo no rosto.
Enquanto Alexia desembrulhava o presente, Snypes se aproximava curioso por trás de Ulisses, vendo, através dele, a menina retirar um objeto dourado e reluzente de dentro da caixa de presente. Snypes arregalou os olhos quando reconheceu o objeto. Lembranças cheias de raiva e adornadas de tristeza lhe vieram à mente e ele olhou a nuca de Ulisses pensando: "safado". Aquele objeto dourado e altamente reluzente foi o causador de sua ruína. Furioso e levemente assustado, o conde afastou-se, atravessando a porta da cozinha e sobrevoou o gramado em direção ao cemitério.
Alexia viu seu próprio reflexo, levemente distorcido pela superfície arredondada do objeto que lhe lembrava um pequeno bule, uma chaleira achatada ou aqueles recipientes onde sua mãe colocava o molho a campanha nas raríssimas ocasiões em que tinha churrasco em casa. A respiração da menina embaçou um pouquinho o objeto e, involuntariamente, Alexia esfregou o objeto delicadamente com a barra de seu vestido.
Ulisses e Ana se olhavam e ele piscou um olho para sua viúva. Então, uma fumaça densa e roxa escura começou a vazar pelo bico do objeto. Depois, uma fumaça azul clara com um brilho mágico se misturou à fumaça roxa e tudo virou um show de brilho e fumaça. Quando os efeitos mágicos se dissiparam no ar, uma moça vestida semelhante à uma dançarina do ventre e de pele azul, piscou algumas vezes e seus olhos enquadraram Ana e Alexia.
- Olá pessoas! - exclamou. - E fantasmas! - Acrescentou, quando percebeu a presença de Ulisses.
Voltou-se, então, para Alexia novamente.
- Você tem direito à três desejos, menina linda.
Sem muita emoção, sem nenhum sorriso, Alexia levantou-se, segurando a presente com as duas mãos e disse à genia, com seriedade:
- Siga-me.
E subiu as escadas em direção ao seu quarto.






"- Boa noite - abaixou-se e sentou-se pesadamente sobre suas ancas -, sou o Prato do Dia. Posso sugerir-lhes algumas partes do meu corpo? - Grunhiu um pouco, remexeu seus quartos traseiros buscando uma posição mais confortável e olhou pacificamente para eles."
(Douglas Adams, em O Restaurante no Fim do universo) 



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