sexta-feira, 28 de junho de 2013

O Sol das 3

Dia 36

       O nome dela não constava na lista dos desaparecidos, o que deixava as coisas ainda mais confusas para o rapaz dos vídeos. Seus sentimentos alternavam entre ódio, saudade, medo e decepção. De vez em quando, alguns desses sentimentos se fundiam e por fim, quando viu uma gota de lágrima pingar e derramar-se vagarosamente sobre algum nome da lista, uma tristeza inconsolável ergueu-se de mãos dadas com um ódio incontrolável. Essas duas sensações pareciam trazer em seu encalço a imagem fugidia do homem do sobretudo negro e molhado que parecia viver deploravelmente em cada esquina deserta, escura e chuvosa de Teresópolis.
       O rapaz limpou uma lágrima derradeira que percorria seu rosto magrelo abaixo e com ela, foram-se todas as suas emoções. Seu rosto agora era vazio. Passou pelas pessoas e tudo parecia acontecer em outra dimensão. Não haviam pessoas, apenas vultos, e esses vultos abraçavam em consolo uns aos outros enquanto ele passava lentamente, como uma alma que já não pertencia a esse mundo. Saiu para o dia ensolarado, mas não sentiu o calor das 3 da tarde, nem o vapor dançante que subia do asfalto. Não viu o amigo que com a mão direita estendida vinha lhe cumprimentar, não sabia que cruzara o fim da calçada, não ouviu a buzina do ônibus, não sentiu nada.





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