sábado, 18 de maio de 2013

O Fardo Mais Pesado

Dia 25

       Feito seu trabalho, com a culpa corroendo sua alma, tal qual a ferrugem corrói o aço, ele caminhou pelas ruas da cidade sem vontade de voltar para sua casa. Em sua mochila repousava silenciosamente a handycam prenha de imagens macabras. Sua mochila parecia pesar mais do que o normal e suas costas doíam absurdamente. Um trovão arranhou o céu, como se algum Deus do Olimpo pigarreasse pedindo atenção.
       Os demais habitantes da cidade ainda não haviam prestado atenção nos números. Muitas pessoas haviam desaparecido nesses últimos poucos dias e ninguém tomou consciencia da gravidade da situação. Como sempre, tomariam a decisão de perder o controle, e somente quando fosse tarde demais.
       O rapaz que editava reportagens na TV local, tivera o infortúnio de filmar, acidentalmente, um homem surrupiar uma pessoa em meio a multidão em plena luz do dia, durante um evento político ao qual fora enviado para cobrir. Mais tarde, esquecera-se dessa imagem. Porém, alguns dias depois, lembrou-se quando viu aquele mesmo homem, dono daquele olhar sombrio e tranquilo e, acima de tudo, ameaçador. Foi no final de uma tarde de sexta feira e ele de pronto foi tomado por um medo que nunca experimentara antes. Desde então ele percebeu que ter as imagens acusadoras daquele homem em suas mãos não era uma vantagem, não era uma carta na manga. Era uma maldição, um fardo traiçoeiro. Muitas vezes um pen drive é deixado em sua caixa de correio. Apenas o primeiro ele pôs no computador para saber do que se tratava e se deparou com imagens improvisadas da ação doentia daquele homem misterioso. O rapaz guardou todos os pen drives, por alguma razão que ele não avaliou, mas nunca mais ousou ver o conteúdo de nenhum deles.




!

Nenhum comentário: