quinta-feira, 11 de abril de 2013

Vale do Paraíso

Dia 07

       Sua voz era um sussurro enferrujado, facilmente surrupiado pelo vento. Com um sorriso vazio no rosto ele olhou a rua à sua frente, na qual o único vestígio de vida era, curiosamente, uma lâmpada no poste que morria e levava consigo um pouco da luz daquela noite chuvosa. O homem encapuzado rosnou em seu silêncio atrofiado: "Eis um Vale do Paraíso para minha alma."
       A cada passo adiante, deixava para trás uma lâmpada a se apagar, uma luz a morrer, um pedaço a mais de trevas a nascer. Caminhava rua a cima em direção a rampa de entrada para o cemitério da cidade. Conseguiu ainda ouvir, na distancia longínqua, além do som da chuva, o carro de seu repórter favorito cessar o ronco de seu motor. Naturalmente o rapaz estaria entrando em sua casa para descansar. O homem de sobretudo negro, camuflado na noite e na solidão, adentrou o cemitério para, também, descansar um pouco.

"138.077 habitantes", ele pontuou em seu caderno de anotações. Soprou a vela até a morte e imergiu na escuridão.



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2 comentários:

Marcos Vinicius disse...

"O homem encapuzado rosnou em seu silêncio atrofiado"

parece letra de forró rsrsrs

Unknown disse...

É, se o blog não der certo, já sei que profissão seguir, falta só arrumar uma sanfona.