quinta-feira, 11 de julho de 2013

O Breve Reencontro

Dia 43

       - O que você faz por aqui?
       O homem usava, principalmente, uma elegante jaqueta marrom enquanto caminhava quase no fim da tarde daquele domingo. O som do céu pigarreando sutilmente precedeu o despencar tranquilo da chuva que persistiria até o dia seguinte. O homem parou e olhou o céu por um momento, e o cumprimento lhe pegou de surpresa quando se propunha a começar a andar novamente.
       - Mas quanto tempo, meu amigo!
       A pessoa que se aproximava era tão alta quanto o homem da jaqueta elegante, porém seu rosto era muito menos cansado e feliz.
       - Ei, vamos sair da chuva, não é?
       O homem da jaqueta elegante apertou, em reposta, a mão do homem que lhe cumprimentava tão contente e juntou-se a ele debaixo da marquise de um boteco, onde outros abrigavam-se também, não da chuva, porém, mas de suas vidas cotidianas e faziam de seus copos cheios, suas marquises contra a chuva de aborrecimentos que os sufocariam se eles permitissem.
       - Você viu, a chuva fez transbordar o rio lá na calçada da fama ontem. Essa é a pior parte do verão.
       Entretanto, o homem da jaqueta marrom apenas olhava a chuva sem nenhum desgosto aparente. Vendo que a chuva não desagradava o quieto homem, o outro homem lembrou-se em voz alta:
       - Ah, sim! Ignorei o fato de que você adora chuva. Sempre gostou, não é. Continua estranho, você, não é? - dito isso, gargalhou por um breve instante, recebendo em resposta, apenas um sorriso fechado, do homem da jaqueta marrom.
       - Ei, porque não tomar um trago, hein? É, eu pago, venha!

       Acima da cabeça do homem que convidara a pessoa de jaqueta para um trago, havia uma pequena TV, a qual transmitia o homem que fizera o convite, vestindo um terno azul escuro e uma gravata preta, a relatar as notícias da semana passada. Percebendo, então, que o homem da jaqueta marrom elegante olhava com atenção o televisor, o velho conhecido virou-se para trás, a fim de ver também a televisão. Voltando-se, comentou:
       - Que loucura, não é mesmo? Essa história de pessoas sumirem do nada. Que loucura. E não temos relatos disso em nenhum outro lugar do Brasil. Que loucura.
       Virou seu copo de cachaça e fez uma careta de satisfação. O homem da jaqueta marrom imitou-o.
       O homem, autor do convite, percebeu, em sua perspicácia, que seu amigo, há muito não visto, não nutria lá muito interesse no assunto dos desaparecimentos. E sendo assim, como bom repórter improvisou, divergindo sorrateiramente para outro assunto:
       - O que tem feito da vida, meu velho amigo?
       - Tentando colocar a vida em ordem.
       - Ah! A velha história de sempre! - mais uma vez, houve um breve gargalhar, e quando terminou, o homem sério e quieto que trajava a elegante jaqueta marrom já estava de pé, munido da quantia precisa para pagar o dono do bar pelos tragos que haviam ingerido. No trajeto da mesa até o caixa, ele pensava, "continue contando para as pessoas que querem saber, afinal de contas, é esse o seu trabalho. Enquanto isso, me deixe em paz. No inverno, se você ainda estiver por aqui, poderá ser o portador de uma notícia extremamente importante."
       - Foi muito bom ver você novamente, depois de tanto tempo. - disse ele com sua voz fria e rouca. - precisamos marcar algo em breve.
       Com um sorriso encerrou sua frase e virou-se sem se importar com o que seu amigo dissera, se é que havia dito algo, pois tudo o que estava atrás dele, havia ficado realmente para trás, simplesmente.



,

Nenhum comentário: