quinta-feira, 18 de julho de 2013

Vinho Tinto e Memórias Amargas

Dia 44

       Subia a rampa que dava no cemitério, como de costume, embora ainda não houvesse se habituado inteiramente com essa situação. Aliás, isso até que lhe cabia muito bem, uma vez que ainda não havia se acostumado com a situação que desencadeara, de fato, toda essa nova situação devastadora. Em casa, se é que podia-se chamar um lugar debaixo de uma cova, de casa, ele serviu-se da primeira de muitas taças de vinho do porto daquela noite. Uma música arranhada reverberava estranhamente alegre na caverna, vinda de uma velha vitrola que encontrara há poucos dias na casa de um desses habitantes de Teresópolis. Um idoso qualquer que provavelmente não saborearia jamais o som abafado daquele aparelho mágico. Não era uma vitrola, mas sim uma máquina do tempo. O homem cruel fechou seus olhos após tomar mais um gole de seu vinho. Alguém, de um tempo muito longínquo lhe cantava algo sobre ondas que colidiam em pedras em uma praia de cinzento céu na hora do almoço. Sobre vinho tinto derramado na areia branca e um par de sandálias que mais tarde seriam levadas pelo mar.
       O homem mal estava feliz, embriagava-se de música, vinho e memórias. De repente, lembrou-se de uma certa promessa e tudo ao redor se tornou triste, e ele, sentindo-se pressionado, abriu mão da felicidade e serviu a si mesmo mais uma taça de vinho. Em seguida, outra e mais uma posteriormente. Quando o dia raiava, estava abrindo sua terceira garrafa de vinho, seus lábias estavam roxos e seus dentes negros. Sua aparência era demoníaca.



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