sábado, 21 de dezembro de 2013

Capítulo 2


Uma Migalha sobre a Inferioridade Humana


       Alexia foi até a academia da casa. Era onde ficavam os diplomas, um aparelho de som, uma esteira ergométrica e um espelho que ocupava uma parede inteira. Lá, Alexia encontrou Magdalena a dançar animadamente ao som de um hip hop intenso. Ana e a genia que ressuscitou seu pai, não se falavam muito verbalmente, mas trocavam olhares seguidos de sorrisos sinceros e mágicos. Foi um desses olhares costumeiros que puxaram um sorriso intenso dos lábios de Alexia, convidando-a para se juntar à dança. Era noite e alguns zumbis erravam pelo quintal gramado da mansão. Alexia os via pela janela quadriculada do quarto quando passava por ali sem querer durante a divertida dança com a genia Magdalena.
Mais tarde, Alexia foi para o seu quarto. Preocupou-se com o fato de que Magdalena desapareceria muito em breve, afinal a menina já havia feito seu último pedido. Alexia se perguntava para onde iam os gênios presos em suas lâmpadas. E mais ainda, perguntava-se porque chamavam aquele bule dourado de lâmpada. De qualquer maneira, ela se sentiu triste por Magdalena e foi procurar a genia.
- Porque está chorando? - perguntou Alexia, quando encontrou Magdalena chorando no porão obscuro, debaixo do cemitério do quintal.
- Porque vocês humanos são todos burros demais.
- Quê?
Alexia ficou incrédula.
- Ora. Eu sou uma genia, Alexia. Sei de tudo e muito sobre tudo. Por isso consigo realizar tudo o que as pessoas pedem. Mas isso me torna inferior perante uma gente que me é inferior. Entende?
- Sim.
- Sendo, é claro, que não me são inferiores.
- Perfeitamente, Magdalena.
A genia encontrou um esforço genuíno de compreensão no olhar sério de Alexia.
- Você não precisava ser tão sincera, Magdalena.
- Eu sei, querida. Desculpe.
- Porém, comigo você sabe que pode ser.
Disse Alexia sorrindo.
De repente, Alexia virou-se e começou a correr, e pela primeira vez em milênios, Magdalena não compreendeu o significado daquela atitude.

Quando Alexia parou de correr, estava na praia. O cheiro da maresia e o ar fresco vindo do mar a estava anestesiando. Ela se sentia confusa e intensamente satisfeita por ter feito o que não era comum. Algo surpreendente e espontâneo. Um experimento pessoal para com a existência universal. Ela se sentiu pequena diante a grandeza do oceano e da potência emocional do carinho do vento noturno. Isso a fez pensar na vida, no universo e em tudo o mais. O vento, então, chegou para apoiá-la. As partículas de oxigênio movimentavam-se velozmente, sacudindo os cabelos longos e loiros de Alexia. Acariciando seu rosto e assobiando uma maravilhosa melodia assombrosa pela praia.








 "- Sabe, Meg, o que é mau e o que nos ensinam que é mau às vezes são duas coisas muito diferentes. A sociedade nos ensina que certas coisas são más para nos manter subservientes.
(trecho de Numa Fria, de Charles Bukowski)



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